terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Pilotos de caça líbios fogem para Malta



Após rejeitar ordens para abrir fogo contra manifestantes, dois coronéis desertam

O Estado de S.Paulo
LA VALETA, MALTA
Dois caças Mirage F-1 da Força Aérea da Líbia aterrissaram ontem em La Valeta, na Ilha de Malta, e um de seus pilotos solicitou asilo político. Os militares teriam sido instruídos pelo regime de Muamar Kadafi a bombardear manifestantes que protestavam nas ruas de Benghazi. Eles se recusaram a cumprir a missão e, então, desertaram para a ilha, que integra a União Europeia (UE).
Momentos antes da chegada dos dois aviões de guerra, pousaram no aeroporto da república insular dois helicópteros civis com sete pessoas - identificadas como cidadãos franceses que trabalhariam em empresas petrolíferas de Benghazi.
Segundo autoridades de Malta, os sete passageiros haviam saído às pressas do território líbio e apenas um tinha passaporte. As aeronaves tinham registro francês e teriam deixado a Líbia sem a autorização de Trípoli.
Os pilotos de caça que desertaram para Malta tinham patente de coronel, segundo autoridades do país europeu. A rede de TV Al-Jazira noticiou que eles partiram de uma base em Trípoli e chegaram a sobrevoar Benghazi, a segunda maior cidade da Líbia e centro dos protestos contra Kadafi.
Quando viram colegas iniciar o bombardeio de regiões onde opositores protestavam, os dois coronéis teriam mudado o curso do voo e seguido até Malta. Ao se aproximar da ilha, eles teriam entrado em contato por rádio e solicitado asilo político. Para evitar ser detectados por radares de seu próprio país, os pilotos sobrevoaram o Mediterrâneo a baixas altitudes.
Autoridades maltesas interrogaram os dois militares líbios e os sete passageiros dos helicópteros.
Alerta ao sul. A Itália, país que fica a poucos quilômetros de Malta, decidiu se preparar para eventuais deserções e a chegada de pessoas vindas da Líbia. O governo italiano colocou ontem em estado de alerta máximo suas duas principais bases áreas do sul, em Trapani (Sicília) e Gioia del Colle (Bari). A Força Aérea italiana decidiu ainda deslocar helicópteros para o sul do país.
O comando militar de Roma afirmou que essas medidas "são normais em tempos de paz" e buscariam reduzir o tempo de reação "caso seja necessário".
Vários países, incluindo o Brasil, anunciaram planos para retirar seus cidadãos da Líbia. Empresas que operam no país também anunciaram planos de retirada de seu pessoal, entre elas a Construtora Norberto Odebrecht. / REUTERS e AP

FICHA TÉCNICA
A LÍBIA
Sob pressão para deixar o poder do país, Kadafi abre fogo contra manifestantes
Líder Muamar Kadafi
No poder desde 1969
População 6,4 milhões
Área 1,7 milhão de km2
Política República laica
Economia Petróleo e gás
Diplomacia Ex-pária do Ocidente
Oposição Proibida pelo regime
Constituição Não existe
Dias de protesto 6
Reação Parlamento dissolvido
Nº de mortos Mais de 300
ONDA DE VIOLÊNCIA
16/02 - Protestos em Benghazi em apoio à ativista dos direitos humanos Fathia Terbil e contra Muamar Kadafi
17/02 - "Dia de Fúria" para lembrar o 5º aniversário de uma violenta repressão que deixou vários manifestantes mortos
18/02 - Protestos em Trípoli; manifestantes em Benghazi são atacados pelas forças de segurança
19/02 - Manifestações se espalham pelo país; segundo informações, mais de 100 pessoas morreram desde o dia 16
20/02 - Manifestantes tomam o controle de Benghazi, protestos antigoverno são reprimidos em Trípoli; ONG fala em 230 mortos desde o dia 16 e filho de Kadafi adverte na TV sobre o risco de uma guerra civil
21/02 - Pilotos desertam; diplomatas renunciam e manifestantes em Trípoli são bombardeados. ONGs estimam entre 300 e 400 mortos 


Nenhum comentário:

Postar um comentário