Mary Zaidan
Vencer é bom demais. Vencer de lavada costuma ser ainda melhor. Quanto mais na estréia, na primeira vez que se entra em campo. Parece não ter preço.
Mas tem.
Além de conseguir expor o tamanho real da oposição, que na votação do salário mínimo provou ser de apenas um quinto da Câmara, a presidente Dilma Rousseff foi ainda mais longe. Deixou claro que pode fazer o que bem entender. Por mais que isso provoque arrepios, para o bem ou para o mal.
Se a opção for pelo lado claro da força, com tal fartura de votos a presidente poderia reduzir o expediente de se governar por Medida Provisória, instituto que se tornou prática corrente quando deveria ser exceção.
Lula editou 414 MPs, 80 a mais do que Fernando Henrique Cardoso. Só que nem um nem outro tinham maioria tão confortável. No Congresso, 24 MPs ainda esperam votação desde o ano passado, 11 delas trancam a pauta.
Do lado avesso, assombrem-se. Se Dilma quiser e o país não ficar bastante atento, ressuscitam-se, amanhã mesmo, o imposto sobre o cheque ou o tal controle social da mídia, temas muito caros às hostes petistas.
Mais do que maioria e docilidade, a presidente ganhou de lambuja um Parlamento que faz pouco de si, que se lixa para as suas prerrogativas, muito menos pelo equilíbrio entre os poderes, um dos principais pilares republicanos. Ao permitir que o salário mínimo seja definido por decreto nos próximos quatro anos, a maioria dos deputados aprovou e comemorou a transferência de seus poderes para o Executivo.
Tudo bem, o tema pode ser derrubado pelo STF, é inconstitucional. Mas e daí? Rasgar a Constituição não é nada demais para o Brasil do pós-Lula, useiro e vezeiro em desrespeitar a Carta Magna.
Com tudo isso oferecido de bandeja, Dilma pode mesmo fazer o que quiser.
Ao contrário de seu criador, que adora culpar o Congresso por não ter conseguido aprovar projetos de fundo como as reformas tributária e política, e especificamente o Senado, por ter lhe carimbado a derrota da CPMF, Dilma não terá qualquer desculpa. Se deixar de fazer as reformas, incluindo as “emergentes” exigidas há mais de duas décadas, se abusar de MPs e de decretos, será por escolha ou capricho.
De Dilma, sim, será possível cobrar com todas as letras a tal vontade política, expressão que caiu no descrédito, mas que se revigora depois dessa vitória esmagadora.
Não pairam dúvidas: o futuro da presidente e de seu governo dependerá do que ela fará com essa maioria tão acachapante.
Mary Zaidan é jornalista, trabalhou nos jornais O Globo e O Estado de S. Paulo, em Brasília. Foi assessora de imprensa do governador Mario Covas em duas campanhas e ao longo de todo o seu período no Palácio dos Bandeirantes. Há cinco anos coordena o atendimento da área pública da agência 'Lu Fernandes Comunicação e Imprensa, @maryzaidan
no Blog do Noblat
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