terça-feira, 2 de agosto de 2011

O ministro da Fazenda foge das críticas à nova política



- O Estado de S.Paulo
Enquanto o ministro da Fazenda se mostrava, na entrevista ao Estado (31/7, B4), seguro sobre a política de contenção da valorização do real - mesmo ao preço de maior pressão inflacionária, que na sua visão não deve ser atacada para não prejudicar o crescimento econômico -, o mercado, no Relatório Focus, previa para o fim deste ano uma taxa cambial de R$ 1,60 por dólar, indicando que não acredita no êxito da nova política cambial.
Desde que foram divulgadas as medidas, multiplicaram-se as críticas a elas, sem que o ministro fizesse alusão, na entrevista, às dúvidas levantadas pelas modificações introduzidas contra o que ele chama de especulação.
O primeiro inconveniente dessas medidas é que os exportadores encontrarão dificuldades para realizar operações de "hedge" indispensáveis à segurança das atividades no comércio exterior. De fato essas operações, que na maior parte nada têm de especulativas, são indispensáveis nas vendas para o exterior, em virtude do prazo entre o pagamento e a entrega da mercadoria exportada. São operações que vão ficar mais caras e poderão levar os exportadores - que se pretende ajudar com a desvalorização cambial - a correr riscos suscetíveis de representar grandes perdas. Não há dúvida de que haverá indústrias que encontrarão graves dificuldades para exportar bens cujo prazo de entrega é longo.
As medidas adotadas pelo governo pretendem desestimular as instituições financeiras de terem posições vendidas no mercado futuro de câmbio, justamente as que permitem que a BM&F movimente a média diária de US$ 15 bilhões, enquanto as operações à vista estão limitadas a US$ 2,5 bilhões. O resultado mais provável é que as operações futuras se realizarão na Bolsa de Chicago, eliminando o objetivo da BM&F de ser uma das grandes bolsas internacionais.
Como explicou muito bem o professor Affonso Celso Pastore em artigo publicado na mesma edição de domingo passado, são as compras à vista de dólares, do Banco Central do Brasil, que favorecem, num mecanismo sem fim, a valorização do real, especialmente quando há no mundo excesso de liquidez, agravado pela política do Fed (o banco central dos EUA) de recomprar títulos da dívida. O poder aquisitivo assim criado não se orienta para o mercado norte-americano, mas para os países emergentes, como o Brasil, que oferecem uma remuneração excepcional aos investidores.
O ministro não rebateu essas críticas provavelmente porque a solução mais eficiente seria cortar drasticamente as despesas públicas para reduzir a taxa de juro tão atraente. 


Nenhum comentário:

Postar um comentário