Em artigo veiculado na Folha, Delfim atribui o “ruído” provocado pela flexibilização da política monetária à inconformidade de alguns analistas com “um fato elementar”.
“Quando as condições se alteram, altera-se também a resposta da política econômica”, ele anota.
Delfim considera “absolutamente natural” e “saudável” que exista “divergência”. Porém…
...Porém, ele acha que “talvez haja algumas críticas produzidas por puro desconhecimento”.
Um desconhecimento que conduz à avaliação errônea de que a redução dos juros açula a inflação e põe em risco o sistema de metas do governo.
A pretexto de levar esclarecimento aos desentendidos, Delfim acomoda no artigo ensinamentos de obscuro didatismo.
Vai abaixo o pedaço final do texto. Você talvez o considere enfadonho. Mas insista. Tente acompanhar o raciocínio de Delfim:
“No fundo, a versão básica do sistema de ‘metas de inflação’ se baseia num modelo novo-keynesiano de três equações simples, uma das quais é a chamada ‘regra de Taylor’.
Esta sugere que a taxa básica do juro nominal deve ser a soma da taxa de juros ‘real’ neutra (de difícil estimativa) somada à expectativa de inflação à qual se juntam, ainda, com pesos variáveis (cuja soma é cem) os desvios da taxa de inflação à meta e do PIB com relação ao PIB potencial (de difícil estimativa).
Desde a origem, a moda foi dar o mesmo peso aos dois desvios, ou seja, supor que um desvio de 1% com relação à meta é equivalente a um desvio de 1% com relação ao PIB potencial. Mas não há nada de destrutivo (dentro do próprio modelo) dar, por exemplo, o peso de 30% para o desvio inflacionário e de 70% para o desvio do PIB, lembrando que há uma relação relativamente estável entre o nível do crescimento e o do desemprego.
Significa, apenas, que se aceita alongar o cumprimento da meta de inflação para tentar manter um nível maior de proteção ao PIB e do emprego.
Quem lê fica com a impressão de que o professor quis dizer: reduzindo-se os juros, adia-se o cumprimento da meta de inflação. Mas, em compensação, atenua-se a queda do PIB e o risco de desemprego.
Não entendeu? Calma, não há motivo para desespero. Em economia, sempre que você não compreende os fatos e os números, basta seguir uma fórmula infalível. Faça o seguinte:
Leve a um mesmo balaio as antevisões do futuro, a conjuntura presente e as probabilidades estatísticas. Misture as previsões, a conjuntura e as estatísticas…
…Sirva-se do resultado para tecer um silogismo (argumento baseado em três proposições: premissa maior, premissa menor e conclusão).
Exemplo: economia não é para qualquer um (premissa maior), eu sou um qualquer (premissa menor), logo economia não é para mim. É coisa para delfins.
Pronto. Como todo bom economista, você já pode se considerar um ótimo ficcionista.
Agora, cruze os dedos, torça para que o BC não tenha escolhido o silogismo errado, engula a carestia e vê se não chateia.