quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Capitalização: governo optou por caminho complicado por Míriam Leitão



Terminou parte da novela da capitalização da Petrobras, o governo fixou o valor médio do barril em US$ 8,51 e vai entrar com US$ 42,53 bilhões. O preço ficou no meio do caminho dos valores apresentados pelas avaliadoras. Achei a decisão arbitrária, até agora não divulgaram explicação técnica.

No passado, quando foi feita avaliação de patrimônio público, na época das privatizações, a regra era, se há diferença acima de 20%, chama-se um terceiro para avaliar, e não meia dúzia de pessoas sentar e cravar no meio. Algumas coisas mostram que não tem muita lógica. Em uma das áreas, de Peroba, não tem valor de cessão, do volume que será cedido, mas tem o do barril, que será US$ 8,53, mas estamos falando de uma área que nunca foi estudada.

Pode ser feita uma previsão, que embute certo grau de arbitrariedade, mas cercada de dados, informações técnicas, para que não seja um chute qualquer. Dá para fazer isso, perfurando as áreas das quais sairão os barris. Inicialmente, era só o campo de Franco, onde foi feito apenas um furo. A Petrobras foi para essa conversa achando que tirar 5 bilhões de barris desse campo seria inseguro e ficou decidido que a maioria será de lá, mas o resto, de outros campos.

Há outras complicações técnicas: em alguns campos, há empresas que ganharam a concessão e estão atuando. Vão ter de fazer um processo chamado unitização, para saber quantos pedaços ficarão com a Petrobras. Nada é simples em petróleo, e o governo resolveu fazer um caminho mais complicado.

Há gente dizendo que pode haver contestação judicial: o minoritário, achando que foi prejudicado, e o contribuinte, por achar que entregou barato demais. O valor de US$ 8,51 significa aumento maior de dinheiro por parte do minoritário para continuar com a fatia que tinha para não ser diluído. E uma empresa como essa tem milhões de acionistas, inclusive pequenos, como aqueles que botaram parte do FGTS.

Vamos torcer para que dê tudo certo. Tomara que amanhã, quando divulgarem nota com as explicações, comece um capítulo novo. Mas como foi misturado com a questão eleitoral, o processo foi prejudicado. Como se o crescimento do Brasil, o pré-sal e a Petrobras pertencessem a um governo e não a todo o país. Essa mistura feita deliberadamente entre o que é temporário, o governo, com o que é permanente, o país, é ruim. E a gente já viu isso ser feito no governo militar.

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