Década registra maiores temperaturas desde 1850; cientista brasileira pede novo tratado
Afra Balazina ENVIADA ESPECIAL / CANCÚN - O Estado de S.Paulo
O ano de 2010 pode se tornar o mais quente da história. Por enquanto, 1998 e 2005 estão à frente. A afirmação foi feita por Michel Jarraud, secretário-geral da Organização Mundial de Meteorologia, durante a Conferência do Clima da ONU em Cancún (COP-16).
Entre janeiro e outubro, a temperatura mundial ficou 0,55°C acima da média anual entre 1961 e 1990, de 14°C. Em 1998 foi 0,53°C superior à média e em 2005, 0,52°C. Esta década foi a mais quente desde que as medições começaram, em 1850.
Segundo Jarraud, várias regiões apresentaram temperaturas acima da média, como a África e partes da Ásia e do Ártico. Grande parte do Canadá e da Groenlândia tiveram temperaturas até 3°C acima do normal. Ele ressaltou a importância de observar o cenário completo, já que algumas áreas tiveram temperaturas menores que a média. "Em alguns lugares podemos ter a impressão de que houve um esfriamento, mas isso não reflete o clima global", afirmou.
"Kyoto não adianta." O Protocolo de Kyoto não é a solução para a questão climática e os países devem se empenhar em outro tratado que coloque todas as nações no mesmo barco. É a opinião da pesquisadora Suzana Kahn, ex-secretária nacional de Mudanças Climáticas e integrante do Painel do Clima da ONU. A posição é polêmica, já que o governo brasileiro defende a continuidade de Kyoto.
A declaração é motivada por um impasse. Enquanto os países pobres brigam para firmar um segundo período de compromisso no tratado (o primeiro se encerra em 2012), o Japão disse que não colocará suas metas de corte de gases-estufa dentro de Kyoto "sob nenhuma circunstância". A União Europeia se diz favorável a Kyoto, mas não quer ser a única a ter de cumpri-lo. Os EUA não ratificaram o tratado e a China não tem meta de redução de gases-estufa.
"Eu faria a mesma coisa que o Japão. Para que ficar cheio de regras e metas se os americanos e chineses estão livres para emitir quanto quiserem?", questionou Suzana. Ela ressalta que Kyoto, sem os maiores emissores, acaba tratando de menos de um terço das emissões. "Para clima não adianta", afirma.
IMPACTOS NESTE ANO
Ondas de calor
Em Moscou, as temperaturas em julho ficaram 7,6°C acima da média. Houve um recorde de calor no dia 29, com 38,2°C, e temperaturas superiores a 30°C foram alcançadas em 33 dias consecutivos. Nenhum dia em 2009 superou 30°C. Cerca de 11 mil mortes em Moscou foram atribuídas ao calor extremo.
Em Moscou, as temperaturas em julho ficaram 7,6°C acima da média. Houve um recorde de calor no dia 29, com 38,2°C, e temperaturas superiores a 30°C foram alcançadas em 33 dias consecutivos. Nenhum dia em 2009 superou 30°C. Cerca de 11 mil mortes em Moscou foram atribuídas ao calor extremo.
Secas
O Rio Negro, na bacia amazônica, chegou ao nível mais baixo desde 1902. Guiana e Caribe sofreram com a falta de chuva.
O Rio Negro, na bacia amazônica, chegou ao nível mais baixo desde 1902. Guiana e Caribe sofreram com a falta de chuva.
Chuvas e enchentes
Indonésia e Austrália sofreram com as chuvas. Na África, Nigéria enfrentou graves enchentes, assim como a Colômbia.
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