Por Mary Zaidan
Poucas coisas nos dilaceram tanto a alma quanto as catástrofes que devastam cidades e vidas, expondo a miséria humana e nossa fragilidade diante dos fenômenos da natureza.
Se por um lado essas tragédias revelam que a humanidade ainda não se perdeu de todo e é capaz de se unir em correntes solidárias, por outro demonstram uma das faces mais sórdidas do poder: o uso político, sem qualquer pudor, do sofrimento alheio.
Seja na destruição do Haiti, onde milhares morreram e outros tantos milhões vagam perdidos sem teto, alimento, água ou esperança, seja nos mortos e desabrigados brasileiros depois das chuvas que castigaram e ainda castigam o país, todos, sem exceção, sempre viram moeda política.
E não há qualquer escrúpulo em usá-las.
No Haiti - há mais de dois séculos condenado à sua própria sorte – disputa-se até o nome do plano de salvação.
O governo brasileiro, no afã de promover a liderança do presidente Lula no cenário internacional, finca bandeiras no solo, tenta se rivalizar com os Estados Unidos, bate no peito e diz que o Plano Lula é a solução, embora ninguém saiba o que vem a ser o tal plano.
Por sua vez, os EUA de Barack Obama enxergam naquela terra arrasada uma chance de redenção diante dos males que imputaram ao mundo.
Não economizam recursos e discursos. Cada pedacinho do mundo – até os envergonhados franceses que exploravam a então colônia haitiana - reivindica sua cota de poder na reconstrução.
São demonstrações cruéis que apequenam todas as nações.
Enquanto isso, haitianos em absoluto flagelo veem os dias passarem sem que algum plano, nem mesmo de emergência, saia da lábia para a prática.
Sabe-se apenas que pouco mais de 25% do dinheiro prometido chegou. Não há estratégia definida para a distribuição de congêneres, feita aleatoriamente em absoluta desordem. Quem chega primeiro come e os demais ficam a olhar bandeiras.
No Haiti como aqui. Leia aqui na íntegra Blog do Noblat
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