terça-feira, 27 de julho de 2010

Contabilidade da diferença

Ricardo Allan no Correio Braziliense


Qualquer criança norte-americana matriculada no ensino básico sabe que Barack Obama é o 44º presidente dos Estados Unidos. Mais do que conhecimento acerca da própria história, o fato demonstra estabilidade institucional. Desde que George Washington fez o juramento em 30 de abril de 1789, os chefes de Estado se sucedem numa entediante regularidade a cada quatro ou oito anos — com algumas exceções, causadas por assassinatos, mortes naturais ou renúncias.

A realidade brasileira não poderia ser mais diversa. O próximo ocupante do Palácio do Planalto será o 42º presidente? Ou o 32º? O 30º, talvez? Alguém arrisca um chute? A vida política nacional é tão conturbada que não é possível ter certeza nem sobre o número de governantes. Apenas os eleitos de forma direta devem ser considerados? Se o critério for esse, a lista cai para 22. Excluindo Nilo Peçanha, Delfim Moreira, Café Filho, João Goulart e Itamar Franco, vices que substituíram os titulares escolhidos pelo povo, são só 17.

Mesmo num cômputo abrangente, os problemas permanecem. Júlio Prestes e Tancredo Neves venceram eleições, mas nunca tomaram posse. Getúlio Vargas encabeçou um período revolucionário, um constitucional, uma ditadura e um eleito. Vale por um ou por quatro? A junta militar (Menna Barreto, Isaías de Noronha e Augusto Fragoso) que assumiu por 10 dias após a Revolução de 1930 conta por um, por três ou deve ser eliminada? E o trio fardado (Aurélio Lyra, Augusto Rademaker e Márcio Mello) que alugou o poder por dois meses depois da doença de Costa e Silva?

O deputado Ranieri Mazzili chefiou por 13 dias com a renúncia de Jânio Quadros e por mais 14 na transição entre Jango e Castello Branco, primeiro no rodízio de generais instalado em 1964. Com a deposição de Café Filho, Carlos Luz sentou na cadeira numa terça-feira e a desocupou na sexta. O senador Nereu Ramos ficou por dois meses antes de entregar a faixa a Juscelino. Até um presidente do Supremo Tribunal Federal, José Linhares, já a vestiu. Com passagens fugazes ou duradouras, todos eles figuram na página da Presidência na internet. Mas nenhum fez muito para tornar o Brasil um lugar mais civilizado, rico e igualitário. Independentemente do seu número na lista, seria bom que o próximo contasse — no sentido de fazer a diferença.

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