Empresa que opera a emissora entende que programas são de proselitismo de religiões específicas
A menos de 70 dias das eleições, a Empresa Brasil de Comunicação (EBC), estatal que opera a TV Brasil e oito rádios oficiais, debate tema politicamente delicado: o destino de programas religiosos em suas grades.
O conselho curador da empresa, que estabelece sua linha editorial, aprovou, com modificações, proposta do conselheiro Daniel Aarão Reis Filho de substituir a atual programação religiosa por programas de discussão do tema, sem "proselitismo" e produzidos mediante concurso.
Um edital de consulta pública sobre o assunto sairá em agosto, no processo de discussão que poderá ter uma audiência aberta e com previsão de terminar até dezembro. Mantido, o cronograma levará ao fim os atuais programas católicos e evangélicos.
"É um debate muito delicado", reconheceu a presidente do conselho curador, Ima Célia Guimarães Vieira. "Acho que vai haver resistência (à mudança). A EBC herdou os atuais programas religiosos da antiga TV Educativa e da Radiobrás." As duas instituições foram fundidas em 2007 para originar a nova estatal. Desde então, a programação passou por modificações.
Também cauteloso, Aarão Reis disse ao Estado que o conselho está tomando todo o cuidado para que a proposta não gere repercussão negativa junto a católicos e protestantes, que produzem programas atualmente veiculados em emissoras da EBC. "Isso não representa um ataque à religião em geral, nem a nenhuma religião especifica."
Segundo ele, que é professor de história na Universidade Federal Fluminense, os integrantes do órgão respeitam "a cultura religiosa", mas não consideram "justo que os horários dedicados à religião" signifiquem "prejuízo à pluralidade religiosa da sociedade brasileira". "Acho que (católicos e evangélicos) vão compreender", declarou.
Na TV Brasil, são duas horas de programação católica aos domingos e 45 minutos de programa evangélicos aos sábados. A Rádio Nacional AM do DF transmite uma missa aos domingos.
"Hoje, os programas são de proselitismo de religiões específicas, que não são as únicas do País", disse Aarão Reis. Pelas mudanças propostas, a exibição de rituais se daria basicamente como parte das discussões. A transmissão regular de missas, por exemplo, seria abolida.
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