sábado, 4 de junho de 2011

Editorial Econômico = O Estado de S.Paulo - No PIB o consumo familiar baixou; o do governo, não



As Contas Nacionais, que mostram o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), apresentam uma dificuldade de leitura, porque dependem da base de comparação. Assim, verifica-se que em relação ao trimestre anterior o PIB cresceu 1,3%, enquanto em relação ao mesmo trimestre de 2010 o crescimento foi de 4,2%. O máximo que se pode concluir é que a economia brasileira continua próspera e dinâmica.
Parece-nos mais interessante assinalar alguns pontos significativos da nossa economia, pois o que está na base do seu crescimento é, de um lado, a demanda (das famílias e do governo) e, de outro, os investimentos e a poupança. No 1.º trimestre deste ano, o consumo das famílias, que responde por 63,4% do PIB, acusou um crescimento de 0,6%, ante 2,3% no trimestre anterior, com ajuste sazonal, o que marca um recuo que podemos considerar salutar. Em compensação, o consumo da administração pública (19% do PIB) cresceu 0,8%, enquanto no trimestre anterior havia acusado redução de 0,3%. Isso nos leva a pensar que a melhoria das contas fiscais tem sua origem mais no aumento das receitas do que na contenção dos gastos.
Cabe à indústria de transformação acompanhar o crescimento das despesas de consumo: verificamos que, enquanto o valor adicionado da indústria ficou, no trimestre, em 3,5%, o do consumo das famílias cresceu 5,9%. Isso nos permite pensar que a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) não foi suficiente. Representou 18,4% do PIB, abaixo do resultado do 1.º trimestre de 2010 (19%).
O fato positivo é que a poupança, com 15,8% do PIB, está crescendo nos últimos anos, embora esteja abaixo do 1.º trimestre de 2008, quando atingiu 17,8%. É isso que nos obriga a recorrer à ajuda externa para financiar nossos investimentos. É preciso lembrar que esses investimentos estão muito concentrados no setor do petróleo e na mineração, mas são insuficientes em numerosos setores da economia e, em particular, na infraestrutura.
Em valor corrente, o PIB do 1.º trimestre é 12,5% superior ao do 1.º trimestre de 2010, mas temos de levar em conta que a inflação neste período (medida pelo IPCA) ficou em 6,30%. A questão é saber se nos próximos trimestres vamos manter o ritmo - considerado excessivo - de crescimento da economia. A ameaça se relaciona com os gastos do governo, aumentados no 1.º trimestre graças a um crescimento superior das receitas: os impostos sobre produtos no 1.º trimestre, em valor corrente, são 17% superiores aos do 1.º trimestre do ano passado, um crescimento muito superior ao da inflação. 


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