domingo, 5 de junho de 2011

Volks e sindicato em encruzilhada no PR


Com um mês de greve, Volks terá problemas se pagar PLR maior que o de SP e sindicato recusa menos do que obteve com a Volvo e a Renault

Cleide Silva e Evandro Fadel - O Estado de S.Paulo
Com um mês de greve completado hoje na fábrica de São José dos Pinhais, no Paraná, a Volkswagen e o Sindicato dos Metalúrgicos da Grande Curitiba estão numa encruzilhada na negociação do pagamento da Participação nos Lucros e Resultados (PLR).
Se ceder ao que pedem os paranaenses, a montadora terá de enfrentar os trabalhadores das outras três fábricas de São Paulo, uma delas no ABC paulista, que já aceitaram valores menores para a primeira parcela do benefício sem paralisar a linha de montagem. Já o sindicato teria de justificar aos 3,1 mil funcionários da Volks por que vão receber PLR inferior ao da Renault (R$ 12 mil) e da Volvo (R$ 15 mil), da mesma base sindical.
Desde o início da paralisação, em 5 de maio, a Volkswagen deixou de produzir 18 mil carros, num momento em que o mercado atinge recorde de vendas. O mês passado foi o melhor maio da história, com 318,6 mil veículos comercializados.
A histórica paralisação, a mais longa no Paraná, é comandada por Sérgio Butka, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos há 21 anos, que briga por uma equiparação dos salários locais com os de São Paulo. Dirigentes das montadoras que escolheram o Paraná nos anos 90, tentando escapar dos altos custos de São Paulo e do movimento sindical, reclamam da inflexibilidade do sindicato nas negociações.
"Hoje não temos negociações, temos extorsões", diz o diretor de Recursos Humanos da Volvo, Carlos Morassutti. "O sindicato coloca sua reivindicação e se não aceitamos fazem greve, sem ouvir nossas justificativas." Segundo ele, desde 2007 a única fábrica de caminhões e ônibus do grupo sueco no País enfrenta greve todos os anos.
Comparação. Nos últimos quatro anos, a fábrica da Volkswagen no Paraná, onde são produzidos os modelos Fox, CrossFox e Golf, ficou 70 dias parada por causa de greves, incluindo a atual. Nas unidades de São Paulo (ABC paulista, Taubaté e São Carlos), não houve paralisações.
A última grande greve na fábrica Anchieta, em São Bernardo do Campo, durou 27 dias e ocorreu em 2005. "É de nossa natureza negociar, mas percebemos uma postura diferente desse sindicato (do Paraná)", diz Nilton Junior, diretor de Recursos Humanos da Volks. "Tentamos desenvolver um processo de diálogo, focando na competitividade da fábrica, mas não conseguimos."
Butka afirma que a atitude da empresa sempre foi de confronto, sem diálogo. Nilton Junior rebate que a realidade de cada fábrica é diferente e ressalta que, nos últimos anos, os porcentuais de reajustes no Paraná foram superiores aos das outras unidades.
O advogado e ex-ministro do Trabalho, Almir Pazzianotto, diz não acreditar que uma mesma empresa consiga fechar acordos em várias fábricas e seja intransigente em outra. "Não me parece lógico, pois a única alteração é o interlocutor."
Choradeira. Para o secretário-geral do sindicato, Jamil Davila, o que há é "uma choradeira patronal". Segundo ele, dizer que não houve negociação, mas extorsão, no caso da Volvo é uma declaração infeliz. "Eles devem estar acusando também o Judiciário, porque a proposta foi fechada no Judiciário."
As três montadoras do Paraná, responsáveis por quase 11% da produção nacional de veículos, afirmam que a atitude do sindicato pode afastar novos investimentos no Estado. Além da discussão da PLR, elas já pensam na próxima negociação sobre reajuste salarial prevista para setembro, data-base dos metalúrgicos.
A Volkswagen não incluiu a unidade local no plano de investimentos de R$ 6,2 bilhões até 2014 e já avisou que o novo Golf não será feito em São José dos Pinhais. "Precisamos tirar essa nuvem de insegurança em relação ao ambiente constante de conflito pois nenhum investidor vem com facilidade quando tem de enfrentar uma relação como essa", diz Nilton Junior.
Morassutti diz que a Volvo avalia o melhor local para novos investimentos. "Perdemos o referencial de mercado, pois de 2009 para 2010 aumentamos o valor da PLR em 50% e, de 2010 para 2011 em 70%." Ele espera que a atual situação seja uma "janela de oportunidade" para as partes tentarem um diálogo que atenda a necessidade de ambas.
O presidente da Renault, Jean-Michel Jalinier, também declarou que o grupo estuda uma segunda fábrica, mas o Paraná pode ficar fora da disputa.
Davila não acredita que os investimentos na região sejam suspensos. "Se fosse assim, nenhuma se instalaria em São Paulo, onde os salários são mais altos. Iriam para o Nordeste ou Centro-Oeste, onde o custo é menor."
O governo do Paraná, porém, vê com preocupação a imagem que é passada para o setor automobilístico mundial.
"Estamos disputando várias montadoras com outros Estados e o ambiente sindical é uma das questões analisadas", afirma o secretário da Indústria, Comércio e Assuntos do Mercosul, Ricardo Barros.
PARA LEMBRAR
"A luta educa o peão e o patrão"
"A luta educa o peão e o patrão", diz o coordenador do Comitê Sindical da Scania, Daniel Calazans. A fábrica em São Bernardo do Campo não tem greve desde 2000. Foi lá que, há 33 anos, ocorreu a primeira paralisação dos metalúrgicos comandada pelo então sindicalista Lula. A relação entre trabalhadores e empresa ainda é conflituosa, admite Calazans, mas "hoje negociamos tudo à exaustão e com equilíbrio e respeito às necessidades de ambas as partes".
Na Mercedes-Benz não há greves há sete anos, informa o vice-presidente de Recursos Humanos Jackson Schneider. "Toda quarta-feira temos reunião entre empresa e trabalhadores e as decisões são construídas de forma compartilhada."
A Ford foi a que registrou as mais longas greves. A dos "golas vermelhas", em 1990, parou a fábrica por 51 dias. Em 1998, após demitir 2,8 mil trabalhadores na véspera do Natal, a Ford ficou parada por 50 dias.
A Fiat, primeira montadora a se instalar em Minas Gerais em meados dos anos 70, registra até hoje três greves. A última delas foi em 1984 e durou sete dias. A estratégia da empresa é cativar os trabalhadores com benefícios como festa de debutante para as filhas que completam 15 anos. Novos funcionários são contratados por indicação de quem já trabalha na companhia. 


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