Insultado pelo presidente venezuelano, arcebispo de Caracas diz que não há condições para diálogo com governo
CARACAS
O arcebispo de Caracas, cardeal Jorge Urosa Savino, rechaçou ontem a convocação feita pela Assembleia Nacional venezuelana para "apresentar provas" de que o presidente Hugo Chávez viola a Constituição. Em comunicado, Urosa afirmou que não há condições para um diálogo no momento. O cardeal ressaltou, no entanto, que aceita ter uma conversa "respeitosa e serena" com os deputados no lugar e no momento adequado para explicar suas razões para discordar das políticas de Chávez.
A presidente da Assembleia, Cilia Flores, disse que as declarações do cardeal são uma "desculpa". Para ela, Urosa "está cordialmente convidado e terá toda segurança e respeito garantidos."
No domingo, em seu programa dominical, Chávez felicitou a Assembleia Nacional por ter convocado o cardeal Urosa para dar explicações. O presidente ainda acusou a Igreja de planejar um golpe de Estado para derrubá-lo.
Na semana passada, o cardeal afirmou que Chávez "passa por cima da Constituição Nacional" e quer levar o país pelo caminho do socialismo marxista, do totalitarismo e da ditadura", enquanto ignora tarefas prioritárias, como "proteger a segurança do povo", dar saúde e melhorar a infraestrutura da Venezuela.
O agravamento da discussão entre a Igreja e o presidente venezuelano ocorre a dois meses e meio de importantes eleições legislativas, nas quais o governo tentará manter a maioria na Assembleia. Essa não é a primeira vez que Chávez ataca líderes religiosos. Em 2002, ele acusou a Igreja de participação no golpe do Estado que o derrubou por alguns dias.
O arcebispo de Caracas criticou Chávez após a prisão do opositor Alejandro Peña Esclusa, na semana passada, acusado de armazenar explosivos para sabotar as eleições. A defesa afirma que os artefatos foram plantados pela polícia na casa de Esclusa.
Após as afirmações, Chávez chamou o cardeal de "troglodita" e ordenou a revisão do acordo do governo com a Igreja, que garante "certos privilégios" ao Vaticano. O convênio, fechado em 1964, garante o repasse de parte dos recursos da exploração do petróleo à Igreja Católica do país para obras assistenciais e projetos educativos.
Chávez, que se diz católico convicto e considera Jesus Cristo o "primeiro socialista" da história, defende uma Igreja popular e assegurou, na quarta-feira, que não considera o papa "nenhum embaixador de Cristo na Terra". "Se, em todo o caso, tivesse Cristo um embaixador, não seria outro senão o povo", afirmou.
Temerário. O vice-presidente da Conferência Episcopal Venezuelana (CEV), bispo Roberto Luckert, chamou Chávez de "temerário" e afirmou que o presidente "não conseguirá iniciar uma briga" com a cúpula da Igreja, que já está acostumada a "aguentar seus insultos".
De acordo com o bispo, a Igreja está apenas colocando às claras o que o presidente diz. Segundo Luckert, o cardeal Urosa não inventou nada do que foi dito. "O próprio presidente diz que é marxista", afirmou.
Conflito com a igreja
Plebiscito em 1999
Chávez trocou acusações com a Igreja venezuelana, contrária à proposta de Constituição, afirmando que, às vezes, o "diabo anda de batina"
Golpe de Estado de 2002
Preso por militares por dois dias, presidente acusou a Igreja de envolvimento no plano para tirá-lo do poder
Referendo de 2007
Chávez mandou para o "inferno" religiosos evangélicos e católicos que o chamavam de "herege" e faziam oposição à reforma constitucional que foi rechaçada nas urnas
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