Roldão Arruda
Para mortais comuns, a escolha de um nome para concorrer ao cargo de vice nas chapas eleitorais que irão disputar a Presidência da República e os governos estaduais parece não ter nenhuma importância. Afinal, vice lembra a rainha da Inglaterra – que desfruta da pompa e da liturgia do cargo, mas não manda.
A história recente do Brasil, porém, recomenda que se dê mais atenção a essas escolhas. Afinal, desde a redemocratização, em 1985, os brasileiros já foram governados em duas ocasiões por vice-presidentes. Foram sete anos nas mãos deles, de um total de 25 de normalidade democrática.
O primeiro caso foi justamente na hora da virada. Eleito de forma indireta por um colégio eleitoral, em janeiro de 1985, Tancredo Neves preparava-se para assumir o cargo – seria o primeiro presidente civil desde o golpe de 1964 – quando adoeceu gravemente. Não resistiu e morreu antes da posse, deixando o País nas mãos do vice, um político muito esperto, chamado José Sarney.
No período de exceção, Sarney presidiu a Arena, o partido de sustentação política da ditadura, que mais tarde foi substituído pelo PDS – também presidido por ele. Ao ver, porém, que o regime militar submergia, sob uma gigantesca onda de descontentamento e protestos, Sarney aliou-se a Tancredo, que precisava dele para conquistar votos no colégio eleitoral. Não foi um bom começo, pode-se dizer.
O segundo vice a empalmar o cargo do titular foi o mineiro Itamar Franco. Sua caminhada para o Planalto iniciou em 1989, quando recebeu um convite do governador de Alagoas, Fernando Collor de Mello, para compor a chapa com que ele iria disputar a Presidência, nas primeiras eleições diretas desde o golpe.
O governador era filiado a um pequeno e inexpressivo partido, o PRN, necessitava de um político da região Sudeste, para ajudar a puxar votos. Investiu em Minas, assim como José Serra fez recentemente, quando tentou, sem sucesso, conquistar Aécio Neves para se lançar na campanha ao seu lado. Collor foi mais feliz e saiu de lá com o nome de Itamar.
Embora o governador alagoano tenha vencido a eleição com a bandeira da moralidade e da modernidade, seu governo foi marcado pelo atraso político e pela corrupção. Em 1992, acossado por um processo de impeachment, deixou o governo, abrindo a vaga para Itamar, que se distanciara dele desde a posse.
Enfim, vice não é importante só para arregimentar votos e tempo no horário gratuito da propaganda eleitoral.
Um dado curioso nessa história, é que no período militar também morreu um presidente. Na ocasião, porém, o vice não pôde assumir.
O fato ocorreu em 1969, quando o general Arthur da Costa e Silva teve uma isquemia cerebral e ficou paralisado, impedido de continuar exercendo o cargo de presidente. Os comandantes militares então fizeram uma dupla manobra: em primei ro lugar ocultaram dos brasileiros a doença; e depois impediram que o vice, o também mineiro Pedro Aleixo assumisse o cargo.
Deram um golpe branco, substituindo Costa e Silva por três generais. Segundo o jornalista e escritor Elio Gaspari, isso lançou o Brasil “num período de anarquia militar, durante o qual foi governador por dois meses por uma junta patética” (A Ditadura Envergonhada).
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