Editorial - Estadão
O saldo da balança comercial em junho, de US$ 2,278 bilhões, teve queda de 35,9%, em relação ao mês anterior, e de 50,5%, ante o mesmo mês de 2009, evidenciando a ameaça às contas comerciais externas. Assinale-se, ainda, em relação a junho de 2009, aumento de 18,2% nas exportações e crescimento de 50,2% nas importações. Em relação a maio, os valores foram de queda de 3,5% nas exportações e crescimento de 3,9% nas importações.
Apesar de uma conjuntura internacional deteriorada com a crise da União Europeia, nossas exportações para essa área diminuíram apenas 8,9%. O que afeta nossa balança comercial é o forte aumento das importações, consequência de uma demanda superaquecida e de preços menores dos produtos importados.
O recuo das exportações em junho não parece indicar uma tendência, embora um crescimento menor da indústria chinesa possa nos afetar muito, levando em conta que o minério de ferro representou 13,6% do total das exportações.
O resultado das exportações nos adverte sobre a sua excessiva concentração. Nos bens básicos, que representam 44,6% do total exportado, verifica-se que apenas três deles contam por 59,8% das vendas do setor; nos bens manufaturados (38,2% das exportações), quatro deles contam por 51% do setor; e nos semimanufaturados (12,1% do total exportado), três produtos contam por 60,7% do setor. Isso mostra que qualquer redução da atividade em algum país pode afetar seriamente nossas exportações.
A concentração geográfica das exportações levanta um outro perigo: três países absorvem 35,4% de nossas exportações, que seguramente teriam de ser mais diversificadas - um inconveniente que tem origem na falta de dinamismo de nossas empresas industriais.
Ao examinar as nossas importações, verificamos que o grau de concentração é menor, porém o crescimento das compras no exterior de bens de consumo duráveis é preocupante, tendo aumentado 69,6% em um ano, o que parece indicar que nossa indústria, depois de ter abdicado de produzir componentes que encontra por preço menor no exterior, está recuando da possibilidade de montar no País esses bens, o que contribuiria para elevar o seu valor adicionado.
O novo governo terá a responsabilidade de examinar as razões profundas dessa mudança que representa uma ameaça para nossa indústria e contribui para fechar postos de trabalho - realidade obscurecida nesta fase atual de crescimento do consumo.
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