Ex-presidente também classificou como 'expressão muito forte' a tese de 'refundação' do partido proposta por Aécio Neves
Eduardo Kattah/BELO HORIZONTE - O Estado de S.Paulo
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso refutou nesta segunda-feira, 22, a ideia de que o PSDB seja um partido predominado por lideranças paulistas, o que chamou de um "slogan" da oposição, que não encontra respaldo na realidade. Fernando Henrique também classificou como "uma expressão muito forte" a tese de "refundação" do partido proposta pelo ex-governador mineiro e senador eleito, Aécio Neves.
Fernando Henrique participou no início da noite do 1º Fórum da Liberdade de Minas Gerais, organizado pelo Instituto de Estudos Empresariais (IEE). Antes de proferir a palestra de encerramento do evento, ele foi questionado se o PSDB não seria "muito Avenida Paulista". O ex-presidente lembrou que o partido saiu vitorioso em oito estados do País.
"Isso é slogan que a oposição coloca para marcar. O PSDB teve 44% da população, você acha que isso é Avenida Paulista? Não é verdade. Isso é simplesmente uma repetição de política eleitoreira. Se fosse assim, eu não teria sido eleito presidente", reagiu.
O ex-presidente distribuiu elogios tanto para José Serra quanto para Aécio, destacando que "não adianta ficar revolvendo o passado" sobre quem seria o melhor presidenciável tucano. Depois de minimizar o fato de não ter aparecido nos programas eleitorais da campanha presidencial tucana, FHC contou que assistiu no domingo ao show de Paul McCartney ao lado do ex-governador de São Paulo.
"Aécio tem uma capacidade política extraordinária. Ele vai mostrar agora no Senado essa imensa capacidade política que ele tem e eu espero que ele seja bem sucedido. E o Serra mostrou que tem uma energia fantástica também", ressaltou. "Tem condições ainda. É muito cedo para pensar o que vai acontecer daqui a quatro anos."
Sobre a possibilidade de uma nova hegemonia no partido, o ex-presidente disse que está "fora de cena há muito tempo" e que Aécio e o governador eleito do Paraná, Beto Richa, representam sim a nova geração tucana. Mas salientou que não pretende "sair de cena das ideias".
Para FHC, ao invés de refundação, o termo mais adequado seria renovação. Segundo ele, o PSDB precisa aprender a fazer política no dia a dia e não somente no período eleitoral. "E se articular com a sociedade. Agora, refundação é forte. Todos os partidos, num certo sentido, estão todo o tempo se renovando. É preciso mesmo que se renovem. Mas refundação acho que é uma expressão muito forte."
Herança - Fernando Henrique aproveitou para rebater a recente declaração da presidente eleita, Dilma Rousseff (PT), que afirmou que receberá uma "herança bendita", ao contrário do legado deixado pelo governo do tucano para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Ninguém acredita nisso. É jogo político simplesmente. O que foi maldito foi o último ano do meu governo, o Lula que assustou os mercados financeiros. Foi só isso. A Dilma sabe disso. Ela usa isso simplesmente por espertezinha política."
Liberdade - Na palestra - cujo tema era Liberdade e Política, o ex-presidente apontou uma tendência "muito grande" de "fortalecimento do poder e da comunicação" oficial no Brasil. "Esse espírito de liberdade muitas vezes fica a perigo, exatamente porque nós não temos tido a força suficiente para chamar a atenção para o que está acontecendo em termos da monopolização da informação, do poder, etc. E crescentemente, a tendência é dizer: 'Não, falta controlar mais. Não tem controle social'", afirmou. "Nós estamos vendo também que há uma cooptação até dos movimentos sociais."
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