Capitão do Exército é carregado nos braços pela população na Praça Tahrir, centro do Cairo, após desistir de servir à ''ditadura de Mubarak''
Jamil Chade - O Estado de S.Paulo
A Praça Tahrir, no centro do Cairo, que se tornou símbolo dos protestos pelo fim da ditadura de Hosni Mubarak, ganhou ontem um novo herói: Ehab Fathy, capitão do Exército, optou por abandonar o serviço militar e se juntar à população. "Deixei meu posto porque não concordo com esse regime e não vou servir a uma ditadura criminosa", afirmou Fathy ao Estado.
Durante o dia, o capitão foi carregado nos ombros pelas pessoas, fez discurso e tirou fotos com manifestantes. "Eu poderia reprimir ou lutar pela liberdade. Fiquei com a segunda opção."
Fathy conta que entrou para o Exército há 22 anos, quando ainda acreditava que o governo promoveria uma transição para a democracia e traria liberdade para a população. "Nada disso ocorreu. Mesmo dentro do Exército há um sentimento amargo de que estamos sendo liderados por alguém que não quer a liberdade para sua população."
Fontes do partido de oposição El-Wafd disseram ao Estado que Fathy não havia sido o único a desertar. Várias imagens de militares fardados sendo carregados nos braços por opositores circularam esta semana.
Ontem, o Exército egípcio deu mais um sinal de que sua lealdade à figura de Mubarak não é absoluta. Em nota, oficiais disseram reconhecer as "aspirações legítimas" e se referiram a "honrados cidadãos" que estão nas ruas, prometendo não abrir fogo contra a população. Hoje, manifestantes prometem realizar mais uma "marcha de 1 milhão" contra o regime.
Orgulho. Questionado se temia ser julgado por um tribunal militar, Fathy mostrou-se otimista. "Até que eles venham me buscar, Mubarak já terá caído. O que mais temo é que minha família seja obrigada a pagar o preço de minha decisão."
Ao lado de seu tanque, ele afirma estar "cansado e com medo" após cinco dias de intensos protestos de rua. "Também estou muito emocionado hoje por estar fazendo parte da história", disse o capitão.
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