terça-feira, 31 de maio de 2011

Editorial = O Estado de S.Paulo - Acesso difícil aos aeroportos



Mesmo com as facilidades do check-in online, passageiros de avião têm sido obrigados a sair de casa ou do trabalho rumo aos Aeroportos de Congonhas ou Cumbica com antecedência de duas a três horas, se quiserem vencer o trânsito caótico e superar o obstáculo da falta de vagas de estacionamento nos dois aeroportos, que às vezes exige deles longa espera. Diariamente, Congonhas recebe 42 mil passageiros e seu estacionamento tem apenas 2.970 vagas. Considerando que cerca de 10% delas são reservadas para funcionários, mensalistas e taxistas, vê-se o quanto a oferta é menor do que a demanda. Com o dobro do movimento de pousos e decolagens, o Aeroporto Internacional de São Paulo, em Cumbica, tem o mesmo número de vagas de estacionamento de Congonhas e, consequentemente, também o dobro de problemas para os motoristas que têm à disposição restritas opções de transporte para chegar lá.
As áreas de embarque e desembarque acabam sendo utilizadas por motoristas e, por isso, cresce o número de infrações por estacionamento ou parada nesses locais. No ano passado, o total de multas registradas em Congonhas subiu 31% em relação a 2009. Sem opções nas redondezas do Aeroporto de Cumbica, motoristas à espera de passageiros estacionam seus carros no acostamento da Rodovia Hélio Smidt e, por celular, monitoram a hora em que a pessoa chega à área de desembarque, onde podem então parar para pegá-la. Nos primeiros cinco meses do ano, 1.728 motoristas foram multados por causa dessa prática.
Grandes capitais do mundo interligam seus aeroportos e pontos de grande movimento no perímetro urbano por meio de eficientes redes de metrô e serviços especiais de ônibus e vans. Mas, em São Paulo, o governo estadual desistiu de construir o ramal de 3,7 quilômetros de extensão previsto para ligar o Aeroporto de Congonhas à rede do metrô, na Estação São Judas, deixando apenas o trecho de 7 quilômetros que fará a interligação com o Terminal Jabaquara. A decisão foi vista como um retrocesso por especialistas em mobilidade urbana. Quem quiser ir para a Avenida Paulista ou para o centro da cidade terá de se deslocar até uma das extremidades da Linha 1-Azul e enfrentar a lotação da estação mais movimentada da rede, com 90 mil passageiros por dia, antes de chegar ao destino. Certamente, a opção será descartada pela maioria dos passageiros que, assim, continuará preferindo os automóveis particulares e táxis, mantendo superlotados os estacionamentos e congestionadas as vias do entorno dos aeroportos.
Congonhas está a 9,5 quilômetros da região central, a 7,5 quilômetros da Avenida Paulista e a 4,5 quilômetros das Avenidas Luís Carlos Berrini e Brigadeiro Faria Lima, corredores onde se concentra parcela significativa de seus usuários.
Conforme a Companhia do Metropolitano, a decisão de excluir o ramal São Judas dos planos de expansão da rede do metrô decorre do fato de o aeroporto estar em processo de tombamento pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo. Isto impede que o aeroporto seja descaracterizado, o que, segundo a companhia, tornou o projeto extremamente complexo. A ligação do aeroporto com o metrô integra a Linha 17-Ouro, que ligará os bairros de Jabaquara e Morumbi, com conexões futuras com as Linhas 4-Amarela e 5-Lilás.
As respostas do setor de transporte público e de infraestrutura às necessidades da cidade sempre deixam a desejar. Um exemplo disso é o edifício garagem de Congonhas, inaugurado há cinco anos. O investimento de R$ 50 milhões aliviou por pouco tempo o trânsito do entorno do aeroporto. Em Cumbica, R$ 200 milhões são previstos para um projeto - parado por disputas no processo de concorrência - para aumentar a capacidade do estacionamento para 9,7 mil vagas.
A verdadeira solução para esses problemas só virá quando as autoridades, finalmente, decidirem investir para valer no transporte público de qualidade. 


Um comentário:

  1. O editorial do Estadão presta um desserviço aos paulistas, ao defender posicionamento do presidente do Metrô, que para justificar o injustificável atraso na expansão da rede metroviária defende que não basta apenas a expansão do metrô, mas que é preciso melhorar os ônibus.
    Ora, dizer que a eficiência de todos os modais precisa ser defendida não passa do bom e velho senso comum. É lógico! Agora o presidente do metrô vir a público defender os ônibus não passa de diversionismo, para transferir a responsabilidade pela piora crescente na qualidade do serviço prestado pelo metrô para todos e, consequentemente, para ninguém. O atraso na expansão da rede metroviária é um escândalo que deveria estar consumindo todo o tempo do presidente do metrô a fim de acelerar as obras de expansão para oferecer o serviço decente pelo qual os cidadãos paulistas clamam.

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