O Brasil que enfrenta o Chile amanhã tem grandes chances de vencer se conseguir driblar a mediocridade e o marasmo, se contar com a inspiração de Robinho, talvez de Kaká, e com um Dunga menos birrento. E essa é a torcida da nação inteira. Até porque só o futebol nos salva. No resto, o Chile bate o Brasil de goleada.
Os indicadores chilenos fazem inveja a qualquer outro país da América Latina. Só para se ter uma idéia, por lá a mortalidade infantil é de 9 para cada mil nascidos vivos, enquanto por aqui estamos na casa dos 22 por mil. A taxa de analfabetismo de 4%, só comparável a nações do primeiro mundo, é três vezes menor do que a do Brasil. A expectativa de vida de 78,5 nos supera em seis anos. E a população que vive abaixo da linha da pobreza soma 14% contra 30% de brasileiros miseráveis.
Tudo bem, o Chile é um país pequeno, com 16 milhões de habitantes, o que praticamente equivale à Região Metropolitana de São Paulo. Mas soube fazer consertos gigantescos.
Venceu sem perseguições uma ditadura sanguinária que matou mais de três mil pessoas, prendeu e torturou outras mais de 30 mil; transformou sua economia em menos de 20 anos, e, a partir da combinação de um rigor fiscal e de reformas nem sempre populares, como a da Previdência, colocou as contas em ordem e passou a crescer, firmemente e sem alarde, algo em torno de 5% ao ano.
Nada fez de muito inovador. Seguiu a lógica, cumpriu a lição de casa. O norte era tão claro que mesmo diante das pesadas pressões internas da esquerda dinossáurica, tão em voga nas terras latinas, a socialista Michelle Bachelet e os seus dois antecessores rechaçaram qualquer intervenção maior do Estado na economia.
Bachelet terminou o governo com uma aprovação recorde de 77% - algo inédito para um país historicamente dividido ao meio. Ainda assim, não conseguiu emplacar o seu sucessor. Perdeu para o conservador Miguel Juan Sebastián Piñera, que continua na mesma batida, com um Estado sólido, nem mínimo, nem voraz.
Tudo bem, o Chile é um país pequeno e as soluções que ali resultaram em sucesso não são replicáveis em um país como o Brasil, infinitamente maior, com uma economia mais diversificada e com desigualdades imensas. Mas as lições chilenas são de grande valia, até porque o maior diferencial não está no tamanho ou no tipo de economia.
Por lá, honrou-se o Estado.
Piñera, mesmo em oposição à líder mais popular que o Chile teve nos últimos tempos, governa sem entraves. Não há herança nem sinais de aparelhamento ou partidarização do Estado.
O mesmo não se pode dizer do Brasil do presidente Lula, onde ele é o Estado e a razão. E ai de quem duvidar disso.
Vamos torcer, e muito, para que pelo menos no confronto direto a seleção verde-amarela lave a nossa alma, repita ou vá além dos resultados de 3 a 0 ou de 4 a 2 das eliminatórias. É a nossa grande chance.
Mary Zaidan é jornalista. Trabalhou nos jornais O Globo e O Estado de S. Paulo, em Brasília. Foi assessora de imprensa do governador Mario Covas em duas campanhas e ao longo de todo o seu período no Palácio dos Bandeirantes. Há cinco anos coordena o atendimento da área pública da agência 'Lu Fernandes Comunicação e Imprensa
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