segunda-feira, 21 de junho de 2010

Com Santos, Uribe continuará bem próximo do poder

Cenário: Renata Miranda - O Estado de S.Paulo

Muitos pensaram que, após oito anos de mandato, o presidente Álvaro Uribe finalmente se afastaria do poder após a proposta de referendo sobre um terceiro mandato presidencial consecutivo na Colômbia ter sido rejeitada pela Corte Constitucional, em fevereiro.

No entanto, a vitória do candidato governista, Juan Manuel Santos, nas eleições presidenciais de ontem, pode reverter o cenário e manter um dos líderes mais populares da América Latina bem próximo do processo de tomada de decisões na Casa de Nariño, sede do governo da Colômbia.

Analistas preveem uma relação tensa entre Uribe e Santos, que terá de lutar para dissociar sua imagem do governo atual. "Ainda é difícil saber que papel Uribe terá em um futuro governo de Santos, mas com certeza ele desempenhará alguma função - direta ou indiretamente", afirmou ao Estado o cientista político Felipe Botero, da Universidade dos Andes.

"Uribe não quer que seu sucessor mude as políticas adotadas por ele."

O carro-chefe do mandato de Uribe foi a política de Segurança Democrática, que intensificou o combate às guerrilhas e obteve a desmobilização de grupos paramilitares, dando ao líder colombiano mais de 70% de aprovação.

"Se Santos ganhar, Uribe vigiará cada passo de seu governo, criticando com liberdade o que não for de seu agrado", disse a colunista do jornal El Tiempo María Jimena Duzán. De acordo com Botero, a presença - e a influência - de Uribe no governo de Santos seria semelhante à do ex-presidente argentino Néstor Kirchner na administração de sua mulher, Cristina.

Eleito em 2002, Uribe tentou aprovar a primeira reeleição em referendo no ano seguinte. Foi derrotado, mas não desistiu. Em 2004, o projeto passou como emenda constitucional no Congresso. Seu segundo mandato começou em 2006 e foi marcado por altos índices de popularidade - em 2008, ele chegou a ter 91% de aprovação -, apesar de uma série de escândalos de corrupção e de escutas ilegais.

O projeto de referendo para permitir a segunda reeleição foi impulsionado por seu partido, que em março de 2008 entregou um documento com 260 mil assinaturas pedindo ao Congresso que analisasse a proposta.

Apesar de toda a polêmica, no entanto, Botero não descarta a possibilidade de Uribe voltar como candidato em 2014. "Mesmo assim, temos de ver como Santos desenvolverá seu governo", ressaltou Botero. "Se ele conseguir manter a popularidade e tiver o mesmo êxito que Uribe teve, provavelmente vai querer tentar mais de um mandato."

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