quinta-feira, 24 de junho de 2010

Dilma deve crescer até agosto, dizem especialistas

GUSTAVO URIBE - Agência Estado

O desempenho da candidata do PT à sucessão presidencial, Dilma Rousseff, nas pesquisas de intenção de voto deve manter trajetória de alta, mas pode perder fôlego com o início da campanha eleitoral. Na avaliação de cientistas políticos entrevistados pela Agência Estado, a estratégia do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de associar Dilma às realizações de governo renderá ainda mais dividendos eleitorais a Dilma.

Entretanto, a escalada da petista pode ser interrompida em agosto, quando deve passar dos 90% o índice de eleitores que identificarem Dilma como a candidata de Lula. A partir desse ponto, para os especialistas, deve chegar ao limite a transferência de votos do presidente à petista. A última pesquisa CNI/Ibope, divulgada ontem, mostra que 73% dos eleitores já associam a ex-ministra ao presidente.

O cientista político Humberto Dantas, conselheiro do Movimento Voto Consciente, credita a Lula a tendência de alta de Dilma nas pesquisas eleitorais e alerta quanto ao risco de o crescimento da petista ser interrompido a partir do momento em que cessar a transferência da popularidade do presidente, acima dos 80%, à sua candidata.

"Se não houvesse o apoio do Lula, Dilma não teria essa pontuação. Mas é importante ressaltar que ela está chegando ao limite." Dantas observa que, a partir deste momento, o confronto será de candidato contra candidato, o que pode prejudicar a petista. "A Dilma não tem experiência eleitoral e não é preparada eleitoralmente. O maior adversário dela é ela mesma." O cientista político avalia ainda que o resultado da pesquisa CNI/Ibope de intenções de voto, que aponta Dilma com vantagem de cinco pontos porcentuais sobre o seu principal adversário, José Serra (PSDB), é mérito de Lula. "Ela não ganha a eleição, mas o Lula."

O especialista em pesquisa eleitoral e em marketing político Sidney Kuntz identifica margem de crescimento para Dilma nas próximas pesquisas de opinião, mas questiona se em longo prazo a petista terá "mais gás para subir". "Quando grande parte da população souber que ela é a candidata do Lula, as pessoas vão se perguntar se estão votando por capacidade da candidata ou pelo apoio do Lula." Kuntz observa que, como toda a campanha eleitoral desde 1989, os debates e os confrontos de ideias entre os candidatos pode prejudicar Dilma. "Esses elementos mexem na eleição e colocarão Dilma à prova."

O cientista político Marco Antonio Carvalho, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), endossa a opinião de Kuntz. De acordo com ele, ainda há espaço para Dilma crescer nas pesquisas, tanto por conta da estratégia de Lula em associar a sua imagem à petista como pelo grande número de eleitores que ainda não sabem que a ex-ministra é a sua candidata. "Mas podem haver escorregões de percurso que podem prejudicá-la."

Serra

A pesquisa CNI/Ibope de intenção de voto aponta ainda queda do candidato do PSDB, que oscilou de 38% para 35% em relação à pesquisa anterior, divulgada em março. Serra também é o candidato que tem o maior índice de rejeição entre os seus adversários, de 30%.

Kuntz atribuiu o resultado do candidato à ausência de um vice em sua chapa. Desde a negativa do ex-governador de Minas Gerais Aécio Neves ao posto, o PSDB ainda não definiu quem irá compor a dobradinha com Serra, o que causou conflitos com alguns aliados.

"Os tucanos estão cometendo um erro grave em não anunciar o vice", avalia Kuntz. O impasse, para o especialista em pesquisa eleitoral, causou insegurança entre os eleitores e uma expectativa que, se não for respondida à altura, poderá prejudicar ainda mais a candidatura de Serra. Entre os nomes cotados para a vaga de vice do tucano, estão o deputado federal José Carlos Aleluia (DEM-BA), o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), e a senadora Marisa Serrano (PSDB-MS).

Carvalho considera também que a indefinição quanto à dobradinha da chapa do PSDB tem prejudicado Serra. O cientista político observa ainda que a grande exposição do candidato tucano na mídia, estrela de três programas partidários exibidos em cadeia nacional (DEM, PPS e PSDB), não teve efeito em sua popularidade. O motivo para o especialista é a exibição das peças no período da Copa do Mundo, quando o eleitor foca as suas atenções às partidas do Mundial.

"Em pleno período de Copa do Mundo, ele não teve a mesma atenção que teria se os programas tivessem sido exibidos antes." De acordo com Carvalho, o trabalho de Serra neste momento deve ser o de aparar arestas dentro do PSDB. "A luta do Serra é tentar pacificar o partido e unir o discurso dos aliados. Esses impasses tem prejudicado a sua campanha."



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