domingo, 20 de junho de 2010

Impasse na área do euro - CELSO MING

CELSO MING - O Estado de S.Paulo

Alemanha e França, os dois países líderes da área do euro, estão de acordo que é preciso governança fiscal no bloco. Governança fiscal significa impedir que ocorram e, mais do que isso, impedir que se generalizem os rombos orçamentários, como está acontecendo. E essa intervenção de um "poder central" na economia dos países sócios implica perda de soberania política.

O problema é que ninguém sabe ainda como fazer isso. O presidente da França, Nicolas Sarkozy, chegou a propor que um secretariado especialmente criado faça esse policiamento. A chanceler da Alemanha, Angela Merkel, fulminou a iniciativa com o argumento imbatível de que esse secretariado teria de se estabelecer em Bruxelas, no âmbito da União Europeia, que supervisiona os 27 países do bloco e não poderia ser misturado com a administração da União Monetária Europeia (a área do euro), que inclui apenas 16 países-membros. "Seria dividir a União Europeia entre países de primeira e segunda classe."

Depois se viu que não faria sentido submeter previamente o orçamento do Reino Unido (e poderia ser o da Suécia, da Dinamarca ou da Polônia) aos burocratas de Bruxelas. Como não se pode transferir para o Banco Central Europeu (BCE) atribuições de supervisão fiscal, parece inevitável que, além de novos tratados, quaisquer controles desse tipo exigiriam instituições supranacionais apenas para atender à área do euro.

O novo impasse parece estar despertando novas pressões em direção à dissolução da união monetária. Sexta-feira, por exemplo, o diário parisiense Le Monde publicou artigo cujo título já diz muita coisa: Como vamos recriar o franco. E por toda parte se ouvem expressões que externam saudades do marco, da peseta, do escudo, da lira...

Enquanto isso, os ingleses, que ficaram de fora da área do euro, se cumprimentam pela sábia decisão tomada lá atrás: "Não submeteremos nosso orçamento a Bruxelas nem entraremos na área do euro", disse quinta-feira o primeiro-ministro David Cameron.

Enquanto vacilam em relação a que rumo seguir, Alemanha e França tomaram a decisão de avançar no duro ajuste fiscal em suas próprias casas, com o objetivo de aumentar a competitividade dos respectivos setores produtivos, mas cujo efeito colateral é produzir mais recessão imediata, para indignação das autoridades econômicas dos Estados Unidos e de alguns comentaristas, que vêm pedindo expansão do consumo, especialmente na Alemanha.

Essa insistência em impor mais despesas à Alemanha, onde as necessidades de consumo estão mais do que suficientemente atendidas, é uma leitura equivocada das lições de John Maynard Keynes. Ele não recomendou que, na crise, houvesse expansão das despesas de consumo, com base no aumento dos salários e das aposentadorias e na fartura de crédito. Ele recomendava elevação do investimento em infraestrutura e na produção de energia.

Paradoxalmente, enquanto os mais aflitos pedem o fim do euro e do BCE, a União Monetária prepara-se para admitir no dia 1.º de janeiro o 17.º sócio, a Estônia.



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