domingo, 20 de junho de 2010

Vem mais juro... e inflação? - ALBERTO TAMER

ALBERTO TAMER - O Estado de S.Paulo

Vem mais juro alto por aí. É isso o que o Copom indica, muito clara e incisivamente, na ata da última reunião. O pior é que isso não vai ajudar muito. Apesar dos reajustes anteriores e do juro básico estar agora em 10,25%, "a demanda se apresenta robusta em grande parte por causa dos efeitos de fatores de estímulo como o crescimento da renda e expansão do crédito". Ou seja, famílias continuam consumindo mais apesar da elevação do juro, não só da Selic, mas do crediário também.

Não adiantou nos aumentos anteriores, e parece que não vai adiantar agora. A renda continua crescendo estimulada por um mercado de trabalho aquecido. Alguns setores têm falta de gente para contratar. O Dieese, que representa entidades sindicais, admitiu nesta sexta-feira que 93% dos reajustes salariais em 2009 ficaram acima da inflação. Há mais emprego, mais renda, mais consumo. Como a produção industrial não seguiu esse ritmo, o resultado é a inflação que o Banco Central tenta segurar até agora sem grande êxito porque está sozinho.

A equipe econômica não está convencida de que o atual crescimento econômico seja sustentável. Guido Mantega, sempre otimista por força do cargo, insiste que a economia está desacelerando. Enquanto isso, o próprio Ministério da Fazenda aumenta as previsões de crescimento do PIB, que já caminham para mais de 6,5%.

É a renda. Há 90 milhões de pessoas das classes de baixa renda que entraram no mercado de consumo, informa pesquisa da Fundação Getulio Vargas. Um dos principais motivos é que no governo atual o salário mínimo teve um ganho real, acima da inflação, de mais de 50%. Um impulso sem precedentes sobre a demanda. É mais gente comprando uma produção que cresce relativamente menos.

Não se entendem. Há sem dúvida algum divórcio entre a política monetária, principalmente juros, e a política fiscal, como registrou o editorial econômico do Estado nesta sexta-feira. Uma tenta conter o crescimento "vigoroso" (ata do Copom), acima do potencial (sem gerar pressões inflacionarias e distorções), outra o estimula. Uma política monetária agressiva, neste momento, não funciona sem uma política fiscal mais restritiva.

Juros distorcidos. Há dois fatores complementares que tornam delicada a crescente de juros. O primeiro é que essa taxa atrai mais investidores externos que, ao comprar títulos do Tesouro, obtêm até o dobro do rendimento que poderiam conseguir no mercado financeiro internacional. E, acreditem, com menor risco, considerando as circunstâncias no Brasil e no exterior. Isso explica em grande parte o forte afluxo de dólares no País. E isso é mal? Não se o BC não fosse obrigado a comprar os excedentes para evitar valorização do real.

Custo da dívida aumenta. E aqui está o segundo problema da elevada taxa de juros: ela não apenas provoca um aumento da dívida interna, via emissão de títulos do Tesouro, mas também do seu custo. Como 36% da dívida está atrelada à Selic, Amir Khair, também colunista do Estado, estima que o aumento causado pela elevação da taxa e seus reflexos ficariam entre R$ 15,2 bilhões neste ano e R$ 42,0 bilhões em 2011. Muito, mas muito além mesmo do que os R$ 8 bilhões previstos para este ano!

E tudo isso sem ter certeza de que a política monetária severa, corretamente aplicada agora pelo Banco Central, poderá dar resultado sem um política fiscal também mais agressiva.

E nós na Copa? Muitos leitores me acusaram de derrotista e pessimista exagerado na coluna da Copa. Não sou não. Tanto que vou torcer hoje e sofrer hoje à tarde com vocês, na luta com a Costa do Marfim, Dizem que esse time não é de nada. Mas não é isso que diziam da Coreia do Norte também?... Vamos lá, Brasil que a gente empurra!!!!



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