sexta-feira, 23 de julho de 2010

A visão otimista do Copom sobre o futuro da inflação

O Estado de S.Paulo

Na sua reunião de junho, o Comitê de Política Monetária (Copom) avaliou mal a evolução da conjuntura econômica brasileira, anunciando uma consolidação da política monetária restritiva. Na de julho voltou atrás, limitando em 0,50 ponto porcentual (p.p.) o aumento da taxa Selic, recuo que um significativo número de economistas tinha previsto da divulgação de alguns índices de preços.
Essa interpretação quase generalizada da decisão das autoridades monetárias faz esquecer que, de qualquer maneira, o Copom realizou um novo aumento da taxa Selic, recorrendo à tática do "bode na sala", em homenagem às entidades de classe, apavoradas com um aumento quase certo de 0,75 p.p. da Selic.
Já tivemos oportunidade de dizer que, qualquer que fosse o aumento, seria preciso respeitar a decisão do Banco Central. Na ata da reunião de junho podia-se ler que "a demanda doméstica se apresenta robusta em grande parte devido aos efeitos de fatores de estímulo, como o crescimento da renda e a expansão de crédito".
No mês de julho não se registrou um forte aumento da renda, embora no mês anterior, segundo os dados divulgados ontem pelo IBGE, a população ocupada cresceu e sua massa de rendimento médio real aumentou 0,5%, o que deveria se traduzir por um aumento da demanda.
O recuo da inflação pode ser atribuído a uma redução das compras nas lojas em razão das férias e, mais provavelmente, dos empréstimos imobiliários, que levam a uma redução da compra de outros bens, uma vez que o preço dos imóveis está subindo.

O Copom costuma dizer que sua política visa aos acontecimentos futuros, e não apenas à situação presente. A questão é saber se o seu otimismo (medido, já que aumentou menos a Selic) é justificado. Os estímulos à renda acabaram com o fim das isenções fiscais, mas foram substituídos por uma elevação da remuneração do funcionalismo e dos aposentados. O Copom seguramente não se esqueceu dos enormes gastos que o governo está prometendo e que representam um forte aumento da distribuição de renda, a menos que esteja consciente de que tais promessas visam apenas a seduzir os eleitores.

Ontem a Fundação Getúlio Vargas divulgou a sua sondagem sobre as intenções dos consumidores, nitidamente otimista, e o Índice Antecedente de Vendas (IAV), apurado pelo Instituto para Desenvolvimento do Varejo (IDV), mostra um bom desempenho em julho e considera que as vendas atingirão o pico da alta em setembro. O Copom poderá ainda atuar...


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