Suzy Menkes
A saída de John Galliano como diretor criativo da Christian Dior coloca um fim a uma louca viagem fashion, na qual graça, glamour e choque, em medidas iguais, fizeram a marca parisiense conservadora saltar à frente tanto em imagem quanto em sucesso financeiro.
A Dior disse em uma declaração na terça-feira que está dando início ao processo legal para demissão de Galliano, o estilista de 50 anos cujos desfiles de moda românticos e teatrais revitalizaram a alta costura, após acusações de insultos antissemitas embriagados em Paris.
Uma coleção controversa em 2000, inspirada em moradores de rua, com casacos feitos impecavelmente com costuras abertas, contrastava com os românticos vestidos de noite exibidos em um jardim de rosas no Bois de Boulogne.
Apesar de o estilo Dior ter frequentemente origens históricas, atualizando o famoso New Look de 1947 do fundador Christian Dior, Galliano adicionou uma sensualidade, perversidade e às vezes um lado sombrio subjacentes. O equilíbrio podia ser entre a elegância refinada de um vestido com corte enviesado e força das roupas de ficção científica da coleção de 1999, que injetaram o espírito do filme “Matrix” em Versalhes.
Fascinado por história, apesar de recentemente estar se afundando em referências ao passado, Galliano em sua melhor forma fazia referência a mulheres exoticamente elegantes, como a hostess parisiense Misia Sert, ou a marquesa Luisa Casati, como pintada por Giovanni Boldini.
Cada coleção era meticulosamente pesquisada, frequentemente com visitas a lugares distantes, e desenvolvida em um livro de referência feito à mão, da forma como Galliano foi treinado no Central Saint Martins College of Art and Design em Londres. Sua primeira coleção, ao se formar em 1984, foi inspirada pelos “Les Incroyables” do período revolucionário francês.
Em 1995, Galliano foi contratado pela Givenchy; menos de dois anos depois, ele se mudou para a Dior. Ambas as marcas, assim como a própria de Galliano, são de propriedade da LVMH Moët Hennessy Louis Vuitton, o maior grupo de artigos de luxo do mundo, comandado pelo empreendedor Bernard Arnault.
Nascido em Gibraltar, de mãe espanhola, a imaginação de Galliano e sua capacidade de transformar ideias em chapéus extravagantes ou calçados delicados o transformaram em um alto cigano –em parte por causa de seus cachos soltos e aparições fantasiadas teatrais ao final de cada desfile.
As colaborações com outras pessoas criativas, como o chapeleiro Stephen Jones, que era capaz de transformar cada capricho, desde caça à raposa até Madame Butterfly, em um chapéu, transformaram os desfiles da Dior em tesouros artísticos. Outras coleções prêt-à-porter mais acessíveis abrandavam o drama e o forte apelo sexual, ajudando a marca Dior a quebrar a barreira do um bilhão de dólares.
Os amigos de Galliano, que só falaram sob a condição de anonimato, disseram que eles finalmente persuadiram o estilista com problemas a ingressar imediatamente em uma clínica de reabilitação –e que o ritmo atual da moda, particularmente a estrutura rigorosa de uma marca corporativa, quebraram o criador frágil e artístico.
Apesar das declarações vis, vistas saindo dos lábios bêbados de Galliano no vídeo pela Internet, merecerem a condenação quase universal que receberam, há comoção na visão de um dos mais famosos –e mais bem pagos– estilistas do mundo sozinho, se agarrando à bebida. A pressão da moda veloz e da era de Internet instantânea de criar coisas novas constantemente já esgotou outros nomes famosos. Marc Jacobs, o diretor criativo da Louis Vuitton, acabou na reabilitação. Calvin Klein famosamente reconheceu o abuso de substâncias. E o falecido Yves Saint Laurent passou uma vida inteira combatendo seus demônios.
Acima de tudo, o suicídio de Alexander McQueen, quase exatamente um ano antes da desgraça pública de Galliano, paira sobre a indústria da moda. A morte por parada cardíaca do principal colaborador de Galliano, Steven Robinson, em 2007, também enviou um primeiro sinal de alerta.
A maioria dos estilistas, preparando suas coleções para a Semana da Moda de Paris, pediu para não ser citado para publicação.
Mas a designer de joias da Dior, Victoire de Castellane, resumiu o sentimento geral quando disse: “É terrível e patético ao mesmo tempo. Eu nunca imaginei que ele tivesse esses pensamentos dentro dele. Ou que precisasse tanto de ajuda”.
Apesar de não ter sido publicamente confirmado, um colega de Galliano disse que o estilista lutaria contra sua demissão da Dior com o advogado de Londres, Gerrard Tyrrell, da Harbottle and Lewis, que representou a modelo Kate Moss em 2005, quando ela foi acusada de uso de cocaína.
Tradução: George El Khouri Andolfato
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