Nárcio Rodrigues* - Estado de Minas
A falta que ela – a ética – nos faz! As discussões que se deram em torno da votação do salário mínimo são exemplos de porque parcela importante da sociedade brasileira tem sobre nós – a chamada classe política – uma opinião tão severa. Ao mesmo tempo em que expuseram as contradições da base governista, essas discussões revelaram algumas das grandes questões que estão postas para o mundo político hoje, entre elas, o dilema da oposição. Qual o nosso papel? Apenas marcar posição ou buscar no Congresso Nacional aprovar matérias que efetivamente melhorem a vida da população? Penso que essa escolha não deve ser excludente. Existirão momentos em que devemos apenas marcar posição, especialmente quando estiverem em jogo valores éticos e democráticos. Em outros, devemos ter a humildade de reconhecer que prioritários são os interesses do país. Essas mesmas discussões foram tema da estreia da relação do governo federal com o Congresso.
Uma péssima estreia. Chamou a atenção a forma autoritária com que a negociação do salário mínimo foi encaminhada, o que gerou constrangimentos, inclusive na base do governo. Foi vergonhoso ver a troca de cargos por votos denunciada pela imprensa, deputados serem ameaçados de retaliação, de perder posições no governo que mal começou ,apenas por tentarem manifestar coerência com sua consciência. A criação de uma base de governo fragilizada, com parlamentares que temam demonstrar divergências, manifestar opinião própria, diminui e envergonha o Congresso como um todo. E amesquinha o próprio valor da maioria parlamentar. É preciso que os democratas que existem nos partidos que apóiam o governo percebam que existem questões e razoes que ultrapassam a conveniência de governos e dizem respeito às instituições e ao país. E a elas, antes de tudo, devemos lealdade.
Nesse ambiente, a sociedade brasileira foi também surpreendida por uma iniciativa do governo do PT considerada, por muitos , inimaginável: para fugir ao desgaste das discussões em torno do valor do salário mínimo, o governo cogita definir o seu valor por decreto, desrespeitando o papel do Congresso e a própria Constituição. Ao fazer isso, o PT parece não perceber que abre perigosos precedentes à medida que está permitindo que futuros governos, quaisquer que sejam eles, possam se utilizar do mesmo subterfúgio. Imaginem se essa iniciativa partisse de um governo do PSDB! E, como é difícil defender o indefensável, o que se viu nos dias seguintes foi um grande esforço do PT no sentido não de defender a proposta do governo, mas de tirar o foco do seu significado. Ou seja, a discussão do salário mínimo apresentou diversas questões que têm um fundo comum: a reflexão em torno dos valores que devem orientar a atividade política.
São questões difíceis porque, na verdade, antes de ser questões afeitas ao campo coletivo, são questões de foro íntimo, afeitas a cada um de nós, individualmente. E dizem respeito à consciência democrática, lealdade às instituições, comprometimento com o país e respeito à verdade. Por isso, dizem também respeito ao uso da mentira e da desinformação, como armas do debate político, e à sedução dos casuísmos. Enquanto não formos capazes de lidar com elas, de forma corajosa, a sociedade brasileira terá realmente motivos para ver com muitas ressalvas a nossa atuação.
*Nárcio Rodrigues – Secretário de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, deputado federal (PSDB)
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