O Globo
As empresas estrangeiras devem ficar com US$ 240 bilhões das encomendas de US$ 400 bilhões que o setor de petróleo vai realizar no pré-sal nos próximos dez anos, o que representa 60% dos investimentos previstos no período. A conclusão é de um estudo encomendado pela Organização Nacional da Indústria do Petróleo (Onip), segundo matéria de Bruno Villas Bôas, publicada na edição deste domingo do GLOBO. Bens e serviços para plataformas e sondas, por exemplo, serão fornecidos basicamente por empresas de países como EUA, Noruega e China.
O estudo da consultoria Booz & Company, que teve acesso ao cadastro de fornecedores da Petrobras e durante oito meses fez uma radiografia do mercado, coloca em xeque estatísticas do governo federal sobre o setor, que apontam para uma participação de 61,4% da indústria brasileira em projetos de exploração e produção de petróleo. Mesmo a estatística oficial, no entanto, tem encolhido: essa é a menor participação dos últimos seis anos.
O resultado do estudo da Booz foi apresentado ao mercado em agosto, mas o cálculo sobre a presença estrangeira no pré-sal foi excluído do relatório final. O anúncio do estudo foi feito a menos de dois meses do primeiro turno das eleições presidenciais.
- A alegação (para não divulgar) foi que as projeções tinham muitas variáveis e não poderiam ser consideradas - afirmou uma fonte.
Segundo José Velloso, vice-presidente da Associação Brasileira de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), os números são preocupantes porque revelam uma nova estatística, completamente diferente da informada oficialmente pelo governo federal:
- O risco do pré-sal é ser abastecido por estrangeiros - afirma Velloso.
Para o consultor Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (Cbie), os números oficiais mascaram a necessidade de adoção de incentivos para o setor.
- Não poderia ser verdade que o conteúdo nacional avançou para 60% ou 70% da noite para o dia. O governo está politizando o processo e criando factoides. É preciso tirar o pré-sal do palanque - afirma o consultor.
Pelos cálculos da consultoria, empresas brasileiras podem, no melhor cenário, fornecer metade dos equipamentos e serviços que o pré-sal vai demandar até 2020, o que aumentaria para US$ 200 bilhões a parcela da indústria local. Mas para que isso de fato aconteça, o setor precisaria eliminar gargalos e ser mais competitivo em equipamentos como compressores de ar, válvulas de controle, motores a diesel e gás e sistemas de automação.
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