na Gazeta do Povo
Beto Richa (PSDB), governador eleito do Paraná
As modificações na gestão também ocorrerão em função do estilo pessoal. Richa afirma que é radicalmente diferente do ex-governador Roberto Requião (PMDB). Mesmo assim, o tucano espera con tar com o apoio dele, eleito senador, e com os outros dois representantes do Paraná no Senado – Gleisi Hoffmann (PT) e Alvaro Dias (PSDB).
Como será a gestão de pessoal no seu governo? De acordo com o Tesouro Nacional, o Paraná gasta 45,11% da receita corrente líquida com pagamento de funcionários, e o limite prudencial é de 46,55%. O senhor pretende aumentar ou diminuir esse porcentual? Pensa na possibilidade de um Plano de Demissão Voluntária (PDV), de reduzir os quadros do governo?
Quero o estado do tamanho suficiente para as transformações que queremos fazer. Acredito que há áreas que podem ser reduzidas; creio que podemos enxugar a máquina, priorizando [diminuir] os cargos em comissão. Acho que não irá precisar de um PDV. Os dados mais precisos para traçar uma estratégia serão tirados a partir do trabalho dessa equipe de transição [a primeira reunião será na próxima quarta-feira]. Com todos os dados em mão poderemos saber o que é necessário fazer. Não dá para antecipar nada agora.
Seguindo o mesmo raciocínio, não dá para saber se será possível conceder reajustes logo no 1.º ano de governo. O senhor tem ao menos uma previsão de quando isso pode acontecer? Há alguma categoria que terá prioridade?
Não, por enquanto não. Assumi mos o compromisso da equiparação salarial com os professores, uma coisa justa. E a ideia é fazer [dar o aumento] o mais rápido possível. Mas tudo passa por esse diagnóstico. Sei que a situação financeira do estado não é boa. É o 18.º em volume de recursos para investimento [os dados do Tesouro Nacional são diferentes: o Paraná ficou em 12.º lugar em volume de investimento em 2009]. A ideia é dar um choque de gestão, melhorar o gasto público, eliminar os desperdícios. Fazer como o Aécio Neves [ex-governador e senador eleito por Minas Gerais]. Contratar o Instituto INDG para fazer esse trabalho. Eles já atuam em vários estados e municípios. Por onde passaram conseguiram aumentar a arrecadação de forma inimaginável, fazendo um pente-fino na administração. No volume geral, sobra um orçamento inteiro para investimento. Em alguns estados conseguiram até dois orçamentos.
Qual o trâmite necessário para contratar o instituto? Precisa de licitação?
Não sei como é. Não estou dizendo que vou contratá-los, apenas que é uma possibilidade. O trabalho deles é muito bom.
O senhor cita o governo Aécio e Minas Gerais como exemplo. O estado reduziu o déficit, mas ainda tem um endividamento muito alto e os gastos com folha de pagamento são maiores do que no Paraná, chegando a 46,16%, o que mostra um inchaço no governo. O senhor também vai se espelhar nas gestões tucanas para saber o que não fazer?
Vou citar um exemplo prático: Minas foi dos poucos ou o único estado que adotou o contrato de gestão. Nós usamos aqui [na prefeitura de Curitiba] o acompanhamento do mesmo avaliador, Caio Marini [professor da Fundação Dom Cabral e consultor em Gestão Pública]. Vimos o que eles fizeram e aprimoramos ainda mais. O próprio Marini disse que o contrato de gestão implantado na prefeitura é muito melhor do que o Aécio fez em Minas. Podemos aproveitar o que temos de bom e também aprimorar. O Aécio tem boas receitas de uma gestão pública eficiente. Pegamos essa receita e avançamos.
O senhor prometeu cumprir seu plano de governo, registrado em cartório. Mas, ao longo da campanha, fez promessas pontuais que não constam do documento, como aumentar a abrangência do Luz Fraterna para um consumo de até 120 kW, ou garantir o reajuste de 26% para professores. Cumprirá também com o que propôs durante a campanha ou seguirá estritamente o plano de governo?
Tudo, tudo. A ideia do Luz Fraterna, por exemplo, surgiu depois, com o decorrer da campanha, conforme as pessoas solicitaram e a nossa equipe técnica detectou ser viável. Vai incluir mais 30 mil famílias; não é nada penoso para o estado. Ao longo do mandato muitas coisas vão aparecer que não estavam incluídas no plano de governo – e nós vamos fazer.
O pedido para impugnar as pesquisas durante a campanha foi uma decisão do seu partido, mas repercutiu mal na sua imagem...
[Richa interrompe a pergunta]. No início. Hoje repercute muito bem porque viram que eu tinha razão.
Mas isso levantou uma série de questionamentos sobre o seu papel de liderança e expoente político na imprensa nacional. Pessoalmente, o senhor teria feito o mesmo?
Teria. Veja bem, não sou contra pesquisas. Nunca fui censor. Atuo sempre com democracia, transparência. Mas todo cidadão, quando se sente prejudicado, tem o direito de recorrer à Justiça. E não fui eu quem proibi a divulgação de pesquisas; não tenho esse poder. Quem tem é a Justiça Eleitoral. E no Tribunal Regional Eleitoral impediram [a publicação delas] por 7 votos a 0. O único instituto [Ibope] que conseguiu [a liberação da pesquisa], via liminar concedida pelo STF, mostrou um dia antes da eleição – e a pesquisa de boca de urna insistiu – que a eleição seria rigorosamente empatada. Erraram além da margem de erro, que era de 2 pontos. A minha diferença para o Osmar Dias chegou quase a 7. Erraram três vezes. Será que eu estou errado? Erraram em relação ao Gustavo Fruet [candidato ao Senado pelo PSDB]. Deram a ele 20 pontos a menos, e ele perdeu por apenas 1. Sou a favor das pesquisas, mas tem que repensar a metodologia. O que ajuda na democracia? Ajudou ao Gustavo Fruet mostrar que ele estava 20 pontos atrás?
Será que influencia tanto assim? Em São Paulo, o candidato ao Senado pelo PSDB, Aloysio Nunes, aparecia em 3.º nas pesquisas, mas acabou sendo eleito em 1.º.
A pesquisa estava errada. Te devolvo a pergunta: o que ajuda uma pesquisa errada? Graças a Deus que não influencia o eleitor. Mas eu me senti prejudicado. Com uma pesquisa que começa a apontar o outro candidato na frente, você perde apoio de prefeitos, de lideranças do interior. Alguns querem estar ao lado de quem vai ganhar. Não sei se a pesquisa não mudou o resultado da eleição passada estadual. O Requião aparecia bem na frente, mas só venceu [Osmar] por 0,1% [cerca de 10 mil votos]. Dois prefeitos que mudaram de posição por causa da pesquisa, mudou o resultado. Eu sei como funciona isso.
Mas, em relação aos dados mais sensíveis da administração pública, como as estatísticas sobre a violência, o senhor pretende torná-las pública ou vai depender do resultado que elas mostrarem?
Transparência total, em todo o governo, em todos os setores. Se o número é bom ou ruim, tudo será mostrado. Não tenho nada a esconder. É um dever do gestor público prestar contas dos seus atos.
E como será o seu relacionamento com a imprensa?
Uma relação boa, respeitosa, aberta. Sou um político democrático, atendi a todos, todos os veículos de comunicação. Quero mudar o comportamento, o estilo, a forma da TV Educativa. Não vai servir para divulgar as ações pessoais do governador e muito menos as opiniões ideológicas ou políticas do governador. Vai ser uma tevê para divulgar cultura, informação de qualidade. Para educar a população, não ser instrumento para atacar adversários.
Uma mudança radical, então.
Radical. A diferença entre mim e o Requião é radical.
Onde o senhor se vê daqui a quatro anos?
Não tenho esse poder. Pretendo fazer um bom governo, que seja bem avaliado como foi na prefeitura. Uma gestão que atenda aos interesses dos paranaenses, que seja reconhecida por essa razão.
E daqui a oito anos? Onde estará?
Aí eu não sei. Talvez em casa.
Mas o senhor é bastante novo, pode ter uma trajetória longa na política.
No dia da eleição perguntaram da minha ansiedade. Eu fui para casa descansar, não acompanhei a apuração. Fui para o quarto descansar. É lógico que um pouquinho se ansiedade existia – afinal lutei igual a um doido. Garanto que não teve um candidato que cumpriu um terço da agenda que eu cumpri. Dediquei-me muito para vencer a eleição. Tinha a proposta de ajudar os paranaenses. Se essa oportunidade fosse negada, eu iria para casa. Tenho muito o que fazer fora a política. Cuidar dos meus filhos, o tempo que perdi de convívio com eles, com a minha mulher, os negócios da família. Minha vida não acaba se eu perder a eleição.
Mas a eleição nacional continua e o PSDB, pelo contrário, não está nada tranquilo, e quer eleger o José Serra presidente da República. O senhor se vê como uma figura importante dentro da estratégia do partido de voltar ao Palácio do Planalto?
Sou um soldado do partido. Não escolho posto ou hierarquia. Estou aqui para ajudar. Mas, pela minha lealdade [ao PSDB], sempre sou consultado. Vou entrar de corpo e alma nessa campanha. E pode escrever aí: fatalmente a vantagem do Serra vai aumentar no Paraná. Agora é dedicação exclusiva.
O senhor se arrepende de não ter utilizado mais o Serra durante o horário eleitoral, visto que ele foi bem votado no estado?
Foi o que deu para fazer. Foi uma estratégia de marketing, de comunicação. Garanto que entre os candidatos em todo o Brasil talvez quem mais mostrou o Serra fui eu. Quando não tinha depoimento, ele aparecia em imagens comigo; apareceu várias vezes no Paraná. E ele sempre saiu daqui agradecendo. Temos uma relação de amizade. Ele declarou que o Geraldo Alckmin [governador eleito de São Paulo] e eu fomos os mais leais. O porcentual dele aqui foi maior do que em São Paulo [43,94% a 40,66%], o estado dele, com o governo na mão.
Como o senhor pretende se relacionar com o governo federal em caso de vitória do PT?
Como sempre tive, uma boa relação. Trouxe muito mais recursos federais per capita do que o Requião, amigo íntimo do Lula. Não basta ser amigo, tem de ter competência, projeto. Curitiba estabeleceu a maior parceria com a Caixa Econômica. Fiz na cidade uma revolução habitacional. Vou fazer no estado também. O governo anterior prometeu 200 mil casas, mas não fez 30 mil.
O mesmo vale para o Senado, que será composto pelo Alvaro Dias – que apesar de ser do seu partido declarou apoio ao irmão Osmar Dias durante a campanha –, pelo Requião e pela Gleisi, os dois últimos de oposição?
Estou muito tranquilo. Falei com a Gleisi [na última terça-feira]. Tranquila, ela quer ajudar o Paraná. O Requião talvez queira. Mas, se não quiser, não tem problema nenhum. Tenho uma grande amizade com muitos senadores que estão lá, até do PT como o Delcídio Amaral (MS). Isso não me assusta. Mas é claro que prioritariamente eu conto com os do Paraná, até porque é obrigação deles ajudar o estado.
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