Sérgio Vaz no 50 Anos de Texto
Está tudo, ou pelo menos quase tudo, errado. As discussões estão indo na direção errada. O que importa não é o que está sendo dito. Há mentiras em cima de mentiras, mistificações em cima de mistificações.
Dilma diz, em reunião com os governadores e senadores do luto-petismo recém-eleitos, realizada na noite da segunda, dia 4, que “o arranque das forças conservadoras” atingiu sua candidatura, e portanto a impediu de vencer já no primeiro turno, em três pontos: a questão do aborto, “a história da Receita” e “a questão da Casa Civil”.
Por mais que tenhamos nos habituado com a novilíngua, é preciso resistir, é preciso de um pouco de lógica.
Dilma diz que as forças reacionárias são culpadas por esses três pontos.
Péra lá.
Primeiro ela defende o aborto, que vários documentos de seu partido também defendem; há gravações em que ela defende o aborto, e há documentos de seu partido defendendo o aborto – mas aí de repente ela nega tudo e a culpa é das forças reacionárias?
A Receita desrespeita o sigilo fiscal (garantido pela Constituição) do vice-presidente do PSDB, da filha do candidato oposicionista à Presidência, de mais diversas outras pessoas, na verdade de mais de 1.400 pessoas, a própria Receita admite que houve quebra de sigilo – e e a culpa é das forças reacionárias??????
A Casa Civil que ela chefiou, e a qual entregou a seu braço direito, se revela um imenso balcão de negócios, de negociatas – e a culpa é das forças reacionárias???????????
Péra lá, gentinha boa. Em algum momento, é preciso dar um basta à novilíngua, a essa persistente malversação dos fatos.
Se Dilma de fato acredita nessas imbecilidades, nessas loucuras que diz, é caso grave de psiquiatria. Muito pior que um palhaço analfabeto ser deputado federal por São Paulo é ter uma louca perigosa candidata à presidência da República.
Eles cometem os crimes – mentem, dizem uma coisa hoje e depois negam; quebram sigilo fiscal; fazem negociatas – e nós, os que não somos como eles, é que somos culpados?
Basta usar o jargão que já era velho em 1789 sobre “forças reacionárias” – e tudo bem?
A questão da eleição não é o aborto
Na minha opinião pessoal, o PT e Dilma estavam certos em defender o aborto – coisa que eles não defendem mais, e juram que nunca defenderam, embora haja trocentas provas concretas de que eles estão mentindo.
E esta é outra questão.
De repente o aborto ficou sendo a questão importante nesta eleição. E não é.
A questão da eleição presidencial de 2010 não é o aborto – o que Dilma acha sobre isso, o que Dilma achou sobre isso no passado, a norma técnica do Ministério da Saúde sobre casos específicos de gravidez provocada por estupro quando Serra era ministro em 1998.
Estamos nos desviando dos temas que importam.
Ao longo da campanha do primeiro turno, todo mundo fugiu do que era importante, porque era assim que os marqueteiros queriam. Todo mundo falou obviedades – é preciso dar importância à educação, à saúde, à segurança, à infra-estrutura…
O último debate na TV, o da Globo, exacerbou, resumiu o que tinha sido o primeiro turno: um monte de seleções treinadas por Parreira e capitaneadas por Dunga – eu não digo a que venho, eu não ataco, então não levo gol, e fica tudo como está, no zero a zero.
E entramos no segundo turno com os jornais preocupados em quem Marina vai apoiar, quem o PV vai apoiar – e Dilma dizendo a seus aliados que “as forças conservadoras” inventaram mentiras.
E a turma da Dilma promete que, agora, Lulinha vai voltar a ser paz e amor. Não vai mais esbravejar que é preciso extirpar partido de oposição, nem que a mídia é contra ele. E, pelo silêncio que andam fazendo nos últimos dias, até parece que eles gostam de imprensa livre.
Mas ninguém vai falar das questões que importam?
E, do lado de cá, o que se ouve é um monte de gente lembrando que Dilma é contra o aborto.
Está tudo errado.
As questões que importam (e que o segundo turno pode definir) são mais ou menos estas:
Que tipo de Estado queremos – o gigantesco Estado do lulo-petismo, pai, mãe, de tudo provedor? Ou um Estado voltado para suas funções básicas, saúde, educação, segurança, regulamentação?
Que tipo de máquina pública queremos – o funcionalismo que trabalha para si próprio, para a corporação, que toma conta da Receita, da Polícia Federal, do Banco do Brasil, da Caixa Econômica, da Petrobrás? Ou servidores públicos que atendam às necessidades de quem paga a máquina inteira?
Que tipo de empresas públicas ou estatais queremos – a que serve aos interesses do governo, dos sindicalistas que se apossaram delas, do funcionalismo que se satisfaz com seus ganhos específicos? Ou empresas que prestem serviços de qualidade a toda a população?
Que tipo de BNDES queremos – o que usa o dinheiro nosso, nós que pagamos os impostos, para atividades que de fato promovam um maior bem estar geral? Ou empresas que paguem 5%, ou o que for, aos filhos Erenice, ou ao Lulinha, ou ao PT, ou aos partidos aliados?
A relação de questões poderia prosseguir infindavelmente, mas me sinto repetitivo. Miriam Leitão mostrou tudo isso em 432 mil colunas, ao longo dos últimos oito anos. Todos os bons colunistas mostraram isso à exaustão.
Quando é que vamos começar a falar a sério?
Eu queria mesmo era saber o seguinte: quando é que nós vamos começar a falar a sério neste segundo turno?
Ou não vamos? Vamos ficar falando asneiras sobre o que diz o bispo tal, o pastor aquele, o sacerdote aquele?
Aborto não é coisa de Estado. Aborto é foro íntimo. Não somos o Irâ – quem está com o Irã são eles, não somos nós. Não somos uma ditadura teocrática – pelo menos por enquanto. Não somos Afeganistão, Paquistão, Arábia Saudita.
Não interessa se Dilma é a favor do aborto. Quanto à opinião de Dilma sobre o aborto, o que importa é que ela mentiu, mais uma vez, depois e em meio a tantas mentiras.
O que importa é que Dilma é a favor do atraso, do capitalismo de Estado, da sovietização, da apropriação do Estado por um grupelho, pela Nomemklatura – como foi na Rússia, como foi em todos os países sobre os quais eles se apropriaram feito macadames, com os tanques de guerra ditando o diálogo. Como é em Cuba ainda hoje.
O que importa é a política.
A política que Dilma representa já deu trocentas provas: é ruim, é fadada ao fracasso.
Resulta na Grande Fome – como houve na União Soviética, na China.
É a idologia, é o que nos faz diferentes deles
A questão é ideológica, sim. Mas os monstros são eles.
Acho muito difícil ganhar este segundo turno lutando contra essa aliança PT +PMDB + MST + BB + Caixa + BNDES + Petrobrás + Força Sindical + o caralhoaquatro.
Mas tenho uma certeza: se for pra ganhar deles usando a mesma lógica que eles, os fins justificam os meios, toda baixaria é bem-vinda desde que seja para ganharmos as eleições, tudo bem que a gente mate e torture, mas é pelo bem – epa, tô fora.
Não quero ser igual a eles. Tudo o que não quero na vida é ser igual a eles.
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