'O partido assegura o direito da minoria de manifestar sua posição caso não haja unanimidade', disse Marina Silva
Carol Pires, do estadão.com.br
O Partido Verde levará para votação, no domingo, 17, em São Paulo, as três possibilidades de caminho para o partido no segundo turno da eleição presidencial: apoiar Dilma Rousseff (PT), apoiar José Serra (PSDB), ou ficar neutro. Após quase seis horas de reunião entre a Executiva Nacional do Partido, nesta quarta-feira, em Brasília, o consenso foi de que todas as opiniões serão contempladas. "O partido assegura o direito da minoria de manifestar sua posição caso não haja unanimidade", resumiu a senadora Marina Silva.
O deputado federal Fernando Gabeira (RJ) explicou que, independentemente da posição oficial a ser adotada pelo partido, os correligionários poderão apoiar quem quiser, contanto que preservem o símbolo do PV. "A decisão de hoje foi: tudo será feito em paz", resumiu. Dos 57 membros da Executiva, 53 participaram da reunião de hoje.
Para a reunião plenária de domingo, o partido ampliou o número de pessoas com direito a voto. Entre apoiadores da campanha de Marina, e dirigentes do partido, 156 pessoas terão direito a voz e voto, incluindo o candidato a vice, Guilherme Leal, pessoas do Movimento Marina Silva e lideranças religiosas que participaram da campanha. A reunião será às 10h, no domingo, no Espaço Crisantempo, em São Paulo.
Marina Silva conquistou quase 20% dos votos válidos no primeiro turno das eleições, e pode ser a fiel da balança no segundo turno. Em entrevista coletiva, no final da tarde de hoje, Marina não quis dar pistas sobre sua posição pessoal e disse apenas que a decisão do partido será "programática". Ao comentar pesquisa interna do PV, na qual a maioria indicou preferência em apoiar José Serra, Marina se limitou a dizer que "consultas informais estão em cada canto, em cada esquina, em cada rua".
"Eu peguei um táxi hoje de manhã e o taxista não perdeu tempo, foi logo dando seu palpite", contou a senadora. O taxista, segundo ela, sugeriu a ela uma posição de neutralidade. Se gostou da sugestão? "Eu estava de olho no taxímetro", respondeu Marina, arrancando risos dos presentes.
Marina Silva se disse "frustrada" por não ter visto, no debate entre Dilma e Serra, no último domingo, na Band, alguma discussão sobre as propostas de sustentabilidade defendidas por ela. "Lamentavelmente, eu devo dizer com certa frustração, não vi essa referencia a essa contribuição sobre a sustentabilidade que colocamos aqui como prioritários", disse.
Marina confirmou que as campanhas petistas e tucanas a procuraram para estabelecer diálogo com o núcleo da campanha verde. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso também mandou recado a Marina, através de amigos em comum, de que gostaria também de conversar com ela sobre o apoio do PV no segundo turno.
Aliados
Candidato derrotado ao governo do Rio, Fernando Gabeira declarou apoio a José Serra, mas só definirá a forma como apoiará o candidato tucano após a reunião nacional do PV, no próximo domingo, em São Paulo, quando a legenda formalizará a posição no segundo turno. "É importante para o partido não marchar de forma divergente da candidata, é importante o partido e a Marina terem a mesma posição", afirmou Gabeira.
Os diretórios do Rio, São Paulo e Minas Gerais, os maiores colégios eleitorais do País, apoiam Serra. Marina Silva e o vice, Guilherme Leal, porém, estão mais propensos a manter a neutralidade.
Antes da reunião desta quarta-feira, em Brasília, líderes do partido também se mostraram desencontrados na decisão de quem apoiar no segundo turno. "No Ceará, a tendência é apoiar Dilma, mas há um apoio significativo pela independência, então a posição depende do PV e da Marina, não podemos ter uma posição desagregadora", afirmou Marcelo Silva, presidente do PV do Ceará.
"No Amazonas, por exemplo, o PV apoia o Serra, mas no Pará apoia a Dilma", completa Rubens Gomes, do Amazonas, filiado ao PV na mesma época que Marina Silva ingressou no partido. Para o coordenador da campanha verde na Paraíba, Pernambuco, Alagoas e Sergipe, Denis Soares defendeu que o partido se adeque à decisão de Marina. "Engana-se quem torce pela divisão do PV. Sonhamos e demoramos muito para contar com Marina e o partido vai apoiar a posição que Marina tiver".
Debate
A senadora Marina Silva (PV) também comentou o debate sobre o aborto travado nas últimas semanas entre Dilma Rousseff e José Serra. "É a primeira vez que vejo os temas comportamentais assumindo força tão grande em uma campanha eleitoral", disse, ao lembrar que, no início da campanha, ela chegou a ser taxada de "conservadora" na internet ao defender posições contrárias ao aborto.
"Eu sempre tratei essas questões com muita coerência e responsabilidade", disse. "Fui transparente com o eleitor, e espero que este tema seja tratado de forma responsável", completou. Segundo Marina, a militância dela será orientada a não partir para "ataques pessoas" durante o debate sobre o assunto. "O debate no Brasil é importante, mas no mérito e não com rótulos".
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