Integrante do núcleo da campanha tucana, cacique do DEM reclama dos ataques do presidente Lula e das 'mentiras' sobre intenção do candidato do PSDB de vender estatais
Malu Delgado
Ex-presidente do DEM, Jorge Bornhausen foi convidado a integrar o núcleo político que vai comandar a campanha de José Serra (PSDB) no segundo turno da corrida presidencial. Um dos críticos mais contundentes do PT e do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Bornhausen, que já pregou o "fim da raça" petista, diz que o DEM deu respostas ao atual governo nas urnas. Foi em Santa Catarina que Lula disse que o partido seria extirpado e foi lá que o candidato Raimundo Colombo, do DEM, foi eleito.
Político experimentado, Bornhausen cobra uma postura crítica de José Serra. Acha que a oposição tem que se mostrar como oposição. "Não vejo porque temer em falar em Fernando Henrique", afirma. Porém, salienta, o eixo da campanha não deve ser o passado. "A tônica central deve ser a proposição, o confronto de personagens. Mas, é indispensável que a crítica exista. E essa crítica foi muito mais feita pela imprensa", analisa.
Sobre a questão do aborto, afirma que o tema foi introduzido à campanha pelo próprio PT na medida em que o governo defendeu a descriminalização do aborto no Plano Nacional de Direitos Humanos. O clima entre PSDB e DEM, afirma, não poderia estar melhor. "Estamos convictos de que vamos ganhar a eleição."
Como foi o processo para sua integração ao núcleo político da campanha? O convite partiu do próprio candidato?
Na segunda-feira (depois do primeiro turno) os candidatos majoritários estiveram com o Serra. Nesta reunião, ele me pediu que colaborasse e ajudasse na coordenação de campanha. Eu concordei e disse que gostaria de trabalhar visando ao melhor resultado possível. Integramos o núcleo que tem o Aloysio (Nunes, eleito senador por São Paulo), o Sérgio Guerra (presidente do PSDB), o Rodrigo (Maia, presidente do DEM), os presidentes de partidos para ajudar exatamente no sentido político. Acho que isso poderá realmente trazer benefícios à campanha. O segundo turno é uma nova eleição. Eu estou com uma expectativa muito favorável. O clima é de vitória por parte dos que integram a equipe.
Fazendo uma retrospectiva do primeiro turno, o sr. fez diagnósticos? Quais ajustes são necessários?
Toda campanha necessita de ajustes. Acho que na política é sempre onde tem de haver a parte crítica. Isso faz com que esse espírito de oposição se incorpore à campanha. Não vejo como a oposição fazer oposição sem críticas. Respeitosas, mas necessárias.
O sr. se refere à necessidade de a campanha de Serra fazer críticas mais contundentes ao PT e ao governo?
Eu acho que são críticas ao desempenho do governo e críticas de natureza ética ao que ocorreu durante esse período em que o governo do PT trouxe mensalões e outras coisas para a vida pública brasileira.
No primeiro turno essa abordagem crítica foi deixada de lado?
A crítica realmente não foi a tônica central, nem deve ser. A tônica central deve ser a proposição, o confronto de personagens. Mas, é indispensável que a crítica exista. E essa crítica foi muito mais feita pela imprensa de forma eficiente e verdadeira, e a imprensa sendo ameaçada pelo governo Lula, do que propriamente pela campanha do candidato de oposição. Acho que agora não pode deixar de haver esse posicionamento político.
É neste sentido que se encaixa a preocupação do PSDB e do DEM de abordar o que foi o governo Fernando Henrique Cardoso sem receio de esconder o que foi esse governo?
Eu tenho uma opinião muito clara em relação ao governo do presidente Fernando Henrique. Ele foi o grande transformador do Brasil. O Plano Real, a Lei de Responsabilidade Fiscal por si só o levarão para a história como um grande brasileiro. Só que este não é o tema da campanha. O tema é o futuro, o que se quer para o Brasil. Se quer um Brasil partidarizado ou tenha um governo formado por técnicos categorizados, por políticos habilitados e com ética. Um governo com ética e um governo em que o presidente da República tenha postura de presidente. E que não falte com a verdade. Essa é a tônica que deve prevalecer na parte crítica, que faz parte da política da campanha.
O presidente Lula entrou na campanha no primeiro turno sem amarras, sendo, inclusive, multado pela Justiça Eleitoral. Como o sr. vê a questão do comportamento de Lula e a expectativa da ação dele para o segundo turno?
No primeiro turno o presidente jogou-se com a máquina estatal para eleger a sua candidata. Não poupou nenhuma ação governamental. Utilizou-se de todos os meios. Nunca foi visto na história de um país democrático uma atuação dessa natureza de um presidente. Ele foi tudo, menos o magistrado da nação.
O sr. acredita que ele continuará na mesma toada no segundo turno?
Ele nos agrediu. Agrediu o governador Luiz Henrique e recebeu a resposta nas urnas. Ganhamos no primeiro turno. Em Joinville, foi a maior votação do Raimundo Colombo. Acho que ele tem que ser respondido na medida em que atue de forma ilegal e abusiva.
O sr. se refere à frase do presidente sobre a extirpação do DEM?
O presidente fez referências diretas aos Bornhausen, desrespeitando as famílias catarinenses que vieram colonizar este Estado e o colocaram como melhor Estado da federação.
Mas, em 2006, o sr. também disse "vamos acabar com essa raça" e a frase está na memória do PT até hoje
A raça teve um sentido claro. É um lado. É a raça corintiana, a raça flamenguista, a raça petista. Não teve nenhum cunho racista. É no sentido de não permitir que voltasse a ter o mensalão. Estávamos em pleno reino do mensalão (em 2006), na maior corrupção ética da história política. Foi isso.
A polêmica sobre o aborto é central para o debate no segundo turno?
Quem colocou esse tema na pauta foi o PT e o Plano Nacional de Direitos Humanos do governo Lula, assinado pela ministra Dilma. Agora quer se esconder da responsabilidade. Cabe ao PT dizer que isso está no seu programa. Senão, é mentir.
Mas essa discussão não corre o risco de ser colocada de uma maneira enviesada em que se dilui a importância de defender um Estado laico?
Quem tem colocado essa questão são os religiosos, que defendem a vida e reagiram a essa postura do PT e da candidata, que adotou uma posição contra princípios religiosos.
O PT atribui a entrada desse tema de forma intensa na campanha à onda de boatos que teria sido propagada e alimentada pelo PSDB e aliados.
Não é onda de boato que consta no programa do PT e do Plano Nacional de Direitos Humanos. Portanto, não é boato. E a candidata é do PT e, portanto, adota essa mesma posição.
O futuro deve ser a tônica do segundo turno? Quais temas serão explorados pelo candidato José Serra?
Cabe ao candidato a presidente escolher o roteiro da sua campanha. Cabe a seus companheiros ajudarem na discussão disso. O presidente é um homem muito preparado. Na minha opinião é hoje o político mais preparado do Brasil, o melhor administrador público. Ele saberá como ninguém colocar os pontos da sua administração para o futuro.
Em relação às privatizações, um debate que o PT já tinha utilizado na campanha de 2006 contra Geraldo Alckmin, o PSDB está preparado para esse embate?
Não vejo problema nenhum em se mostrar a verdade neste caso. Fica muito fácil ver os resultados. O que não aceitamos é a mentira, como dizer que o candidato falou que vai privatizar a Petrobrás, o Banco do Brasil e a Caixa. Nunca ele falou isso. Não tem essa linha. Pelo contrário. Nós vamos rechaçar o que for mentiroso e vamos mostrar que o que foi feito foi bem feito, dando bons resultados ao País.
O candidato fez várias promessas no primeiro turno. Há uma preocupação de economistas com o equilíbrio de despesas correntes líquidas e o problema futuro que o próximo presidente terá de lidar. Tantas promessas não é uma irresponsabilidade?
O Serra tem a condição de ser um grande economista. Se ele promete um aumento de despesas de um lado, ele sabe que vai cortar de outro lado. É tão fácil diminuir despesas. Só de doações que o presidente Lula fez para o exterior, mais milhões de publicidade, mais gastos em ministérios que não têm nenhum sentido, com o aumento de cargos em comissão para premiar os que têm estrelinha do PT, mas não têm competência, todos esses cortes podem ser dados para beneficiar os que precisam mais ser atendidos.
Em relação à questão social, o PT acusa o DEM de ter sido contra o Bolsa-Família. O partido de fato chegou a questionar o programa?
Não é verdadeiro isso. Ninguém questionou o Bolsa-Família. Absolutamente. O Bolsa-Família é a junção do Bolsa-Escola, do Bolsa-Gás, etc, todos criados pelo presidente Fernando Henrique, teve o apoio dos Democratas. Nós nunca fomos contra. Queremos aprimorar. Nunca votamos contra.
O partido não chegou a ajuizar uma Ação Direta de Inconstitucionalidade questionando pontos do programa?
Nós não fizemos nenhuma Adin sobre o Bolsa-Família. Isso não existe.
O DEM hoje não tem nenhuma restrição ao programa?
Absolutamente.
No primeiro turno houve vários estremecimentos entre o DEM e o PSDB, Está diferente no segundo turno?
Estamos todos unidos em torno da candidatura do Serra e convictos de que vamos ganhar a eleição.
O grande desafio do segundo turno é atrair os votos de Marina Silva (PV). O que segurou a candidata Dilma foi a popularidade do presidente Lula?
A popularidade do presidente foi o que levou os votos para a candidata Dilma. Ela entrou com o nome dela, nada mais. E agora é bom que os eleitores parem para pensar para saber se é bom ter uma governante sem densidade popular e que vai ser mandada por outro governante.
O sr. acredita o presidente Lula mandaria no governo?
Até a briga final entre criador e criatura.
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