domingo, 11 de setembro de 2011

Dificuldades levam empresas a produzir em outros países


Grupos brasileiros buscam no exterior condições de produção melhores, mesmo para vender para o Brasil

ernando Dantas - O Estado de S.Paulo
Em agosto, a Paquetá Calçados, com 66 anos de mercado, resolveu transferir a sua unidade produtiva de Sapiranga, no Rio Grande do Sul, para a República Dominicana. Os motivos alegados, em comunicado divulgado à imprensa no mês passado, foram os de "manter a competitividade industrial e continuar crescendo, bem como manter a base de clientes importadores".
Segundo a Paquetá, uma das vantagens principais da República Dominicana é o acordo de livre comércio entre o país caribenho e os Estados Unidos, principal mercado para as exportações da empresa.
A Paquetá informou que, dos 1,4 mil empregados da fábrica de Sapiranga, 800 foram reabsorvidos pelo grupo, e 400 foram contratados pela Ramarim, outra empresa calçadista. A Paquetá, com sete fábricas (duas fora do Brasil) e 273 lojas (18 no exterior), produz 8,5 milhões de pares de calçados por ano.
O setor calçadista é um dos mais afetados pelos problemas da indústria no Brasil. "As maiores dificuldades estão nos setores mais intensivos em mão de obra, com atividade exportadora", diz André Loes, economista-chefe do HSBC.
Em julho, o grupo Vulcabrás/Azaleia confirmou o fechamento da unidade de Parobé, no Rio Grande do Sul, com demissão de 800 funcionários. A empresa também fez demissões em Itapetinga, na Bahia, e anunciou planos de produzir na Índia.
Tendência. O economista João Furtado, professor da USP especializado em indústria e inovação, nota que há uma tendência crescente de que partes, peças, complementos e até produtos completos sejam importados.
Essa tendência, para ele, afeta mais os produtos indiferenciados e vendidos em grande quantidade. Pesquisando atualmente o setor químico, ele diz que "os maiores projetos químicos de empresas brasileiras hoje estão no exterior, porque é preferível produzir lá fora, até mesmo para vender no Brasil".
A petroquímica Braskem, do Grupo Odebrecht, por exemplo, tem projetos na Venezuela e no México, e fez aquisições importantes nos Estados Unidos.
Furtado acha que os segmentos da indústria nacional com condições de melhor competir são "os mais próximos de bens de consumo que exigem relacionamento e logística, que exigem proximidade com o cliente, marketing, etc". São empresas que podem se diferenciar ou que, por peculiaridades dos seus mercados, estão mais protegidas da concorrência internacional.
Mas Furtado faz questão de dizer que há muitas ambivalências nas perspectivas da indústria no Brasil: "Há estímulos positivos vindos do crescimento, da redistribuição de renda, das políticas sociais, etc; mas a indústria é incapaz de aproveitá-los todos, porque o ambiente macroeconômico de câmbio e juros ainda é muito desfavorável".

Percalços
ANDRÉ LOES
ECONOMISTA-CHEFE DO HSBC
"As maiores dificuldades estão nos setores mais intensivos em mão de obra, com atividade exportadora."
JOÃO FURTADO
PROFESSOR DA USP
"Há estímulos do crescimento e das políticas sociais, mas câmbio e juro ainda são desfavoráveis." 

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