Lula fez as declarações no encontro de líderes latino-americanos
Fabrícia Peixoto
Enviada especial da BBC Brasil a Cancún
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta terça-feira que o Conselho de Segurança das Nações Unidas "deve reabrir" a discussão em torno da jurisdição sobre as Ilhas Malvinas, em disputa entre Argentina e Grã-Bretanha.
Em discurso durante a Cúpula da América Latina e Caribe, em Cancún, Lula questionou tanto a postura da Grã-Bretanha como a da ONU no episódio.
"Qual é a explicação geográfica, política e econômica de a Inglaterra estar nas Malvinas? Qual a explicação política de as Nações Unidas já não terem tomado uma decisão dizendo: não é possível que a Argentina não seja dona das Malvinas e seja um país (Grã-Bretanha) a 14 mil quilômetros de distância?", questionou o presidente.
Lula sugeriu que a resposta para esse questionamento pode estar no fato de a Grã-Bretanha ser um dos membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU."Será que é o fato de a Inglaterra participar como membro permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas e para eles pode tudo e para os outros, não pode nada?", disse.
Coragem
O presidente pediu aos 32 chefes de Estado e representantes de governo que participam da cúpula que "instiguem" a ONU a "reabrir a discussão" sobre a disputa territorial entre Argentina e Grã-Bretanha.
Lula aproveitou o debate em torno das Malvinas para sugerir a reforma do Conselho de Segurança da ONU, uma de suas principais reivindicações no cenário internacional.
"Não é possível que a ONU continue com o Conselho de Segurança representado pelos interesses geopolíticos da Segunda Guerra (Mundial) e não leve em conta todas as mudanças que ocorreram no mundo", disse.
Ainda de acordo com o presidente, se os países da região "não tiverem coragem" de enfrentar esse debate, a ONU “vai continuar a funcionar sem representatividade e os conflitos no Oriente Médio vão ficar por conta dos interesses eminentemente norte-americanos”.
"Na verdade era a ONU que deveria assumir a responsabilidade de estar negociando a paz no Oriente Médio, as discussões com o Irã. Por que a ONU se afasta e os países individualmente tratam desses assuntos?”, questionou.
Segundo Lula, a ONU "perdeu representatividade" e muitos dos países que ficam no Conselho de Segurança "preferem a ONU frágil".
"Assim eles podem desobedecer às decisões da ONU e fazer de seu comportamento, enquanto nação, a grande personalidade de governança mundial", acrescentou Lula.
Histórico
As Malvinas, chamadas pelos britânicos de Falklands, são um arquipélago de dezenas de ilhas ao sul do Oceano Atlântico.
O território pertence à Grã-Bretanha, mas ele fica geograficamente próximo do litoral da Argentina, que reivindica a soberania sobre a região desde o século 19.
A Argentina invadiu o arquipélago em abril de 1982, iniciando uma guerra com a Grã-Bretanha. A vitória britânica, em junho do mesmo ano, não impediu Buenos Aires de continuar aspirando ao controle sobre as ilhas.
Os argentinos acreditam que herdaram o território dos colonizadores espanhóis, que disputaram a soberania sobre o arquipélago no século 18 com os britânicos.
Grã-Bretanha e Espanha chegaram a estabelecer colônias simultâneas nas ilhas, mas os britânicos abandonaram o assentamento, abrindo caminho para a presença de colonos argentinos – que, depois, foram expulsos pelos britânicos.
O principal argumento britânico para manter a soberania sobre as Malvinas é que, hoje, a população local é britânica e prefere manter os laços coloniais.
Nenhum comentário:
Postar um comentário