O Estado de S.Paulo
A demanda doméstica voltou a ser "robusta" - para usar expressão do Banco Central. Cresceu 2% em agosto, ante 0,4% no mês anterior (na série com ajuste sazonal), e 11,3% nos oito primeiros meses do ano.
Isso é resultado do aumento dos rendimentos reais, de uma oferta de crédito com juros em baixa e das facilidades nos prazos de pagamento, mas também do aumento das importações de bens a um preço menor, provenientes de países cuja moeda é subvalorizada, ao contrário do real. Note-se que, para o mesmo mês, a produção da indústria nacional apresentou queda de 0,1% (dados também dessazonalizados) e já se pode prever que neste ano a demanda doméstica crescerá pelo menos 11%, com uma perspectiva de aumento do PIB de 7,5%.
Esse fato deveria preocupar as autoridades monetárias, que, no entanto, se encontram diante de dilemas difíceis de resolver. Em face dessa situação, a atitude normal do Comitê de Política Monetária seria uma elevação da taxa Selic. Deixando de lado que isso seria mal recebido pelo governo, compete às autoridades monetárias levar em conta a taxa cambial para a qual seria desejável uma elevação (isto é, desvalorização do real) para conter as operações de arbitragem que estão na origem de um real excessivamente valorizado. Mas uma modificação da taxa cambial nesse sentido teria o efeito de alimentar as pressões inflacionárias.
Isso explica a demora do governo em adotar as medidas necessárias para desvalorizar o real num mundo em que se está disseminando uma guerra cambial.
A análise do comércio varejista em agosto confirma o papel das importações na expansão do comércio. Enquanto o setor de alimentação cresceu 1,2% (ante 0,2% no mês anterior), as vendas de aparelhos domésticos nos hipermercados registraram aumento de 2,9%; as de móveis e eletrodomésticos cresceram 2,4%; as de veículos, 2,1%; e 2% as de material de construção - os dois itens muito sensíveis à importação.
Diante da evolução da balança comercial que mostra importações crescendo a uma taxa muito superior às exportações, caberia adotar medidas capazes de conter o crescimento do consumo de produtos importados, mas de uma maneira indireta.
Todos os meios possíveis deveriam ser postos em prática para favorecer uma desvalorização do real ante o dólar. Caberia, ainda, às autoridades monetárias conter por um tempo o crédito às famílias e, ao contrário, expandir o que se destina às pessoas jurídicas, inclusive à exportação.
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