sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Políticas para os coroas - Celso Ming



Celso Ming - O Estado de S.Paulo
O Brasil está envelhecendo mais rapidamente do que se esperava há alguns anos - verifica o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). E isso traz importantes consequências para as políticas públicas.
As mais recentes reflexões estão no Comunicado do Ipea n.º 64, intitulado Pnad 2009 - Primeiras Análises: Tendências Demográficas (você pode obter o documento no www.ipea.gov.br).
Os levantamentos do IBGE mostram que cresceu a quantidade de idosos que não só vivem por conta própria, como também sustentam os mais jovens. É a volta do garotão morando na casa da sogra.
Diz o trabalho do Ipea: "O aumento na proporção de idosos e, principalmente, de mulheres idosas chefes de família ou cônjuges e a redução na proporção de idosos vivendo na casa de filhos, genros, noras, irmãos ou outros parentes foi uma das mudanças importantes verificada no período 1992-2009."
Isso posto, vamos às conclusões do estudo. Lá está dito que é preciso repensar as políticas públicas, o que é bem mais do que simplesmente construir menos escolas e mais lares de velhinhos. A primeira dessas políticas tem a ver com a renda, para compensar a perda de capacidade de trabalho. A outra está relacionada com a saúde. As doenças degenerativas tendem a tomar corpo sobre as infecciosas e isso exige transferências de cuidados e investimentos em atendimento geriátrico.
É preciso ainda repensar as iniciativas ocupacionais. Em muitas empresas, os cinquentões são empurrados para fora. O arquiteto Oscar Niemeyer, do alto dos seus 102 anos, continua criando maravilhas. Se estivesse empregado numa dessas firmas modernas que adoram tesouradas, já teria sido demitido há anos. Ou seja, inúmeros preconceitos contra os coroas precisam ser desfeitos com esclarecimento e incentivo ao prolongamento dos períodos de atividade profissional.
Outra consequência está na Previdência Social. O Ipea havia se tornado a instituição que inventava e distribuía argumentos contra quaisquer reformas nesse campo. Agora, para alguma surpresa, seus técnicos acabam de advertir que o forte aumento da expectativa de vida e o prolongamento do tempo de pagamento de aposentadorias estão destruindo as bases atuariais em que se assentam os organismos do setor. A reviravolta das condições demográficas do Brasil está exigindo revisão da idade mínima de aposentadoria.
Há, no entanto, certo equívoco nessas reflexões que procuram empurrar tratamento de velho para quem ocupa o topo das pirâmides de distribuição de idade. As condições etárias do Brasil estão se transformando tão rapidamente que, entre as primeiras mudanças a serem providenciadas, talvez esteja a do próprio conceito de idoso que, pelo Estatuto (de 2003), é todo aquele que tem 60 anos ou mais. Pode ser equivocado dizer que há tantos idosos no País. É preciso perceber que as pessoas estão vivendo mais porque têm melhores condições não só de saúde, mas também de entendimento das questões da vida. Ou seja, tendem a permanecer sacudidas, fortes - e relativamente jovens - por mais tempo. Um sessentão hoje é bem mais moço do que o sessentão de 20 anos atrás. Ou seria esta apenas observação enviesada de sessentão? 


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