Alberto Almeida*
no Estadão.com.br
Não se pode afirmar que a queda de Serra tem sido rápida, mas é inegável que tem sido firme. É isso que mostra a série de pesquisas se adicionarmos o último resultado Ibope/CNI.
Está clara a estratégia do candidato de oposição: comparar sua biografia com a de Dilma que, crê-se, é melhor do que ela em todos os aspectos, e investir nos temas da saúde e segurança pública. A estratégia de Dilma tem sido associá-la a Lula e seu governo e falar de tudo que foi feito para melhorar a vida e o consumo das pessoas, especialmente dos mais pobres.
Serra não confere ênfase aos pobres, Dilma fala pouco de saúde, Serra não promete nada que possa a melhorar o consumo das pessoas, Dilma fala pouco de segurança. A evolução das pesquisas não deixa dúvidas de que a estratégia de Dilma, até este momento, é melhor do que a de Serra.
Adicionalmente, a campanha eleitoral oficiosa tem mostrado que Dilma é a candidata do governo. Como 75% dos eleitores avaliam Lula como ótimo ou bom, na medida em que esses eleitores passam a saber da existência da candidata governista, acabam votando nela.
Em 1994 Fernando Henrique teve 60% de votos dos eleitores que consideravam o governo Itamar Franco ótimo ou bom, ou seja, 37% do eleitorado. Se Dilma tiver 60% dos votos de quem avalia o governo Lula como ótimo ou bom ela assegura nada mais nada menos do que 45% de votos. Somente com o ótimo e bom de Lula sua candidata fica muito perto de ganhar no primeiro turno.
O Plano Real de 2010 é o governo Lula. Em 1994 o eleitorado disse: vamos manter no governo aquele que é o portador do Plano Real. É muito provável que em 2010 ocorra o mesmo: o eleitorado vai querer manter no governo aquela que é a portadora do governo Lula.
Não bastasse isso, as aparições públicas do Serra bem preparado têm sido piores do que as da Dilma inexperiente. Serra fala em intervenção no Banco Central, discute com a Miriam Leitão, diz para Sabrina Sato que já nasceu preparado para os debates e trata dos temas que não importam em uma campanha presidencial.
Dilma adota a disciplina de uma boa guerrilheira. Ela segue o script e corrige eventuais erros. Falou uma vez em volta da CPMF, foi criticada e abandonou a ideia. Já foi contra Palocci e hoje viaja a Nova York com ele a tiracolo. Defende redução de impostos nos remédios e promete tirar mais gente da pobreza e levar para a classe média.
Apesar disso tudo, Serra é mais bem preparado do que Dilma. Porém, de nada adianta essa enorme superioridade técnica se isso não for convertido em votos. Em política, todos sabemos, o que importa é conquistar o poder. A capacidade de ouvir de Dilma e do PT parece que até agora tem sido muito mais útil para esse propósito do que a determinação e preparação técnica de Serra.
*É SOCIÓLOGO E AUTOR, ENTRE OUTROS LIVROS, DE ‘A CABEÇA DO BRASILEIRO’
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