Em entrevista à Agência Senado e à Rádio Senado, o ex-presidente Fernando Collor (PTB-AL) pediu desculpas à população pelo bloqueio que deixou os brasileiros com apenas 50 mil cruzados novos (cerca de R$ 6 mil) nos bancos em 16 de março de 1990, um dia depois de assumir a Presidência da República.
“Eu peço desculpas, as mais humildes e sentidas desculpas, a todas as pessoas e todas as famílias que sofreram constrangimentos, medos, inseguranças, contrariedades, viveram dramas pessoais, e tenho a dizer que lamento muito que isso tenha acontecido”, afirmou o senador.
“Acho que, mais tarde, todos devem ter percebido que não tomei aquela medida por gosto, mas porque eu queria salvar o país e a população do flagelo da inflação, esse imposto draconiano que corroía salários. Eu lamento que tenha acontecido, foi um sacrifício muito maior do que eu teria imaginado”, complementou.
Collor destacou que essa atitude é a única que ele não repetiria. “Há instrumentos hoje que permitiriam medidas mais brandas. Se a situação se repetisse, seguramente eu não tomaria a mesma medida, não faria o bloqueio, encontraria fórmula mais criativa, menos traumática.”
Para ele, sua queda começou na Avenida Paulista “com a insatisfação dos que perderam suas reservas de mercado, seus privilégios”. “Mas a indústria brasileira deu um grande salto de produtividade e qualidade depois da abertura da economia”, complementa.
O senador por Alagoas ressalta que sua versão sobre o período em que governou o Brasil está em um livro “que repousa docemente em dois disquetes”. “Não sei quando vou lançar o livro, mas é prematuro”, afirma.
Collor relata um conselho que recebeu do ex-ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) Thales Ramalho, que já é falecido, quando leu um trecho do livro em 1993.
“Ele lia e balançava a cabeça... Lia e balançava a cabeça, em negação. Até que me disse: ‘Presidente, isto é um livro de memórias, coisa que só pode ser lançada por quem, como eu, está na ante-sala da morte. O senhor é jovem, mais cedo ou mais tarde vai retomar sua vida política, não pode fazer isso agora. A maioria dessas pessoas está viva, tem filhos, família, netos, não seria bom’”.
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