terça-feira, 23 de março de 2010

José Eduardo Cardozo: 'Não tenho mais ânimo para essas regras'

Renata Camargo

CONGRESSO EM FOCO - Por que o senhor decidiu não se candidatar?
JOSÉ EDUARDO CARDOZO
- É uma questão estritamente pessoal. Eu gosto do Parlamento. Acho que o Legislativo tem um papel fundamental na sociedade brasileira e sempre me orgulhei de ser parlamentar. Portanto, minha decisão não passa por nenhum tipo de descaso. Eu louvo demais aqueles colegas que, mesmo passando por situações que nós vivenciamos, permanecem disputando eleições. E eu vou apoiar alguns. Deixo a Câmara, mas não deixo a política. Mas, sinceramente, a minha vontade, o fator pessoal, pesa e é o que eu considero relevante para me tirar do processo. Quando você não sente vontade de participar de uma boa luta, não entre e deixe alguém que tem essa vontade lutar pela boa causa.

Mas quais são essas questões pessoais?
Nas eleições passadas, já tive um desestímulo profundo de participar das eleições, mas me convenci da possibilidade de haver a reforma política nesta legislatura. Esse cenário que vemos hoje é muito perverso. Às vezes, você pode ter uma postura essencialmente ética, cuidadosa, republicana e ser penalizado, inclusive com a perda do seu mandato, com o descumprimento de situações que se colocam e escapam ao seu controle. Escapam porque é impossível controlar toda uma campanha eleitoral. Isso tudo te leva a um profundo desagrado. Pelo senso comum, todo político é bandido até que prove ao contrário. Então basta que você levante alguma suspeita, para que as pessoas que te cercam e a sua família sejam submetidas a vexames. Há uma generalização perversa em relação especialmente aos parlamentares. Esse tipo de situação vai abatendo e tirando o ânimo. Quando você pensa que terá que enfrentar uma campanha caríssima, em que as relações entre o doador e quem receber a doação são sempre complicadas, onde o que importa, muitas vezes, é o peso da máquina eleitoral e não da sua ideia e de seu programa, você se sente muito desestimulado. A gente acaba sendo muito violentado no cotidiano e tem hora que isso abate o ânimo. Nós chegamos num ponto em que, ou nós fazemos uma reforma política mudando esse sistema, ou vamos ter um fenômeno, que eu acho perigoso, desse vírus que me atinge agora, atingir outros combatentes que vão disputar as eleições.

Como foi a reação do partido diante de sua saída? Leia íntegra no Congresso em Foco

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