A operação, que deverá ser anunciada hoje, cria a segunda maior empresa de eletroeletrônicos e móveis do varejo brasileiro
Mais um negócio para reforçar a consolidação do varejo brasileiro deve ser anunciado hoje. A rede Insinuante, com sede na Bahia e líder no Nordeste, deverá se unir à mineira Ricardo Eletro.
Juntas, vão criar a segunda maior empresa de eletroeletrônicos e móveis do País, com faturamento estimado em mais de R$ 4 bilhões. O novo grupo ultrapassa o Magazine Luiza, ficando atrás apenas da gigante formada pela união de Pão de Açúcar, Ponto Frio e Casas Bahia.
A nova empresa terá gestão compartilhada entre os sócios e mais de 500 lojas, distribuídas em 19 Estados. A estratégia do novo grupo é ganhar terreno no Rio de Janeiro e em São Paulo. Diante das dificuldades para selar o acordo, pessoas envolvidas no negócio chegaram a batizar a operação de "Tio Patinhas", em alusão ao personagem linha-dura de Walt Disney.
Nos últimos anos, as duas redes travavam uma disputa pesada na região Nordeste, grande filão de crescimento do consumo do País. A rede Insinuante, que esteve no páreo para comprar o Ponto Frio ? adquirido na metade do ano passado pelo Grupo Pão de Açúcar ? teria visto na união com Ricardo Eletro uma forma de rebater o avanço do próprio Pão de Açúcar.
"Esse negócio é uma reação à compra das Casas Bahia pelo Pão de Açúcar. E faz sentido porque o varejo de eletroeletrônico é um mercado muito competitivo, com um grande número de redes regionais que precisam se expandir", afirma Cláudio Felisoni, presidente do Conselho do Programa de Administração de Varejo (Provar).
Ele destaca que, com o crescimento do poder de consumo da classe C, concentrada especialmente na região Nordeste, as redes regionais tendem a se fortalecer para brigar por esse consumidor emergente e fazer frente ao megaconglomerado formado por Pão de Açúcar e Casas Bahia.
Mesmo com uma grande sobreposição de lojas das duas redes, a união entre Insinuante e Ricardo Eletro se justifica, na opinião de um especialista em varejo, que não quis se identificar. Na avaliação dele, tanto uma quanto a outra vão sair ganhando.
No caso da Ricardo Eletro, o ganho deve ocorrer em razão do mix de produtos. A rede mineira tem uma pequena fatia do faturamento (cerca de 10%) proveniente da venda de móveis. Num mercado em que os eletroeletrônicos se tornaram produtos com preços comparáveis, isto é, commodities, a venda de móveis garante maior margem de rentabilidade para o comércio.
Por isso, a união da Ricardo Eletro com a Insinuante, esta última menos concentrada nos eletrodomésticos e com uma participação maior de móveis, deve proporcionar maior equilíbrio para a nova empresa. "Esse negócio é uma grande tábua de salvação para o Ricardo Eletro", resume o especialista.
Já a Insinuante também sairá ganhando porque, com a união, põe fim ao pesado embate que enfrenta desde que a rede mineira pisou em território nordestino. Há dois anos, a Ricardo Eletro chegou a devolver dinheiro aos clientes que pagaram mais por produtos oferecidos na concorrência a melhor preço.
Obstáculos. Apesar de as duas redes ganharem sinergia com a união, há dúvidas quanto à compatibilidade entre as empresas. Segundo fontes de mercado, a rede mineira teria um endividamento bem maior que o da Insinuante. A rede baiana é considerada pelos analistas de mercado como uma empresa "redonda" financeiramente.
Outro obstáculo ao casamento das empresas é a diferença na gestão. Ricardo Nunes, presidente da rede que leva seu nome, é conhecido por seu estilo concentrador. Há relatos de que vendedores das lojas da rede já chegaram, em alguns casos, a consultá-lo no celular para saber se poderiam dar desconto em uma venda. Na Insinuante, no entanto, a forma de gestão é mais descentralizada, o que dá maior autonomia aos executivos da empresa.
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