Empresa dos EUA manobra para evitar censura sem abandonar o maior mercado do mundo
SÃO FRANCISCO
Dois meses após ter ameaçado abandonar a China por causa de censura governamental e ataques de hackers, a empresa americana de internet Google anunciou ontem o fechamento de seu servidor no país e o redirecionamento do site google.cn para o google.com.hk, baseado em Hong Kong e livre de filtros- mas que, ainda assim, pode ser bloqueado para quem o acessar da China continental.
A decisão é uma tentativa da Google de solucionar a disputa com o governo de Pequim ao mesmo tempo em que mantém sua presença no maior mercado do mundo em número de usuários. Um membro do governo chinês afirmou à agência oficial de notícias Xinhua que a empresa "violou sua promessa feita por escrito" e "está totalmente errada" ao tentar frear a censura das buscas feitas na China.
Para o público chinês, a medida dificilmente fará alguma diferença, a menos que eles consigam driblar as firewalls - barreiras virtuais - impostas pelo governo chinês para bloquear os resultados de pesquisas sobre temas considerados sensíveis, como o Dalai Lama.
A decisão é tomada em um momento de tensão crescente entre a China e os Estados Unidos no que diz respeito a uma série de temas, como a liberdade na internet e a taxa de câmbio da moeda chinesa, o yuan.
"Esse não é o fim da saga. É apenas o fim do capítulo", disse Colin Gillis, um analista independente americano. "Você faz a China parecer como um vilão e ainda acha que vai vender produtos? Boa sorte."
Negociação dura. A Google, a maior ferramenta mundial de buscas na internet, reconheceu que falhou ao liderar as negociações com o governo chinês para obter permissão para operar um site de pesquisas livre de censura no país. "O governo chinês foi muito claro durante toda a discussão de que a autocensura é um requerimento legal não negociável", afirmou ontem a empresa em texto publicado em seu blog oficial.
A Casa Branca também se disse desapontada com a falta de acordo. Em janeiro, a secretária de Estado, Hillary Clinton, chamou por liberdade na internet em todo o mundo e destacou a China, entre outros pouco países, como uma nação que impõe censura a conteúdos na rede. Vários senadores americanos se engajaram nesse tema.
Também em janeiro, a companhia chegou a anunciar a intenção de abandonar a China, quando foi identificado um sofisticado ataque virtual a seus computadores cuja origem foi detectada no país asiático. Como uma pequena parte de seu lucro anual de US$ 24 bilhões vem da China, o país é considerado o local onde há a maior oportunidade de crescimento para a Google.
A empresa afirmou que sua decisão de desviar o tráfego chinês para um site livre de censura em Hong Kong é "inteiramente legal". Antiga colônia britânica, Hong Kong é uma região administrativa especial da China e possui maior liberdade em relação à China continental. A Google reconhece que o governo chinês pode, a qualquer momento, bloquear o acesso a esses novos servidores, que incluem os serviços de busca de notícias e de imagens. A reportagem em Pequim, ao acessar o google.cn, foi desviada para o google.com.hk, mas, ao buscar pelos nomes de dissidentes como o Dalai Lama, teve os resultados bloqueados.
PARA ENTENDER
1.
Setembro de 2002
A China bloqueia o buscador Google, como prevenção à "subversão".
2.
Janeiro de 2006
A Google lança uma nova versão de seu site que aceita a censura imposta pela China.
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