na Folha de São Paulo terça-feira, 09
Entre outros, Elio Gaspari e Luiz Felipe Alencastro, na Folha de domingo último, já mostraram a infâmia de tais afirmações. A questão que fica é: por que o senador decidiu colocar o brucutu na praça neste momento? E a pergunta cabe porque, por incrível que pareça, Demóstenes Torres é o mais próximo de um ideólogo de que dispõe o seu partido.
A resposta mais plausível para essa defesa abrupta e ríspida de teses infames é: porque o DEM está encurralado. A prisão de José Roberto Arruda foi o golpe de misericórdia que diminuiu ainda mais o já exíguo espaço da mais autêntica direita brasileira.
Demóstenes Torres foi o primeiro a pedir a cabeça do ex-governador do DF e de seu vice. Percebeu o desastre que significava a demora de medidas como a expulsão sumária do partido dos principais envolvidos no escândalo.
Teve clareza de que ali se esvaia o último recurso de que tinha lançado mão o DEM para tentar se manter como um partido relevante, o discurso da "eficiência com ética". Algo que fazia o partido recuar às suas origens, ao conservadorismo da velha União Democrática Nacional lá dos anos 1950.
Nem isso mais restou. O ataque de Demóstenes Torres às políticas de reconhecimento é um ato de desespero. É o sintoma mais claro de que o DEM será obrigado a recuar ainda mais. Terá de ir ao mais profundo do conservadorismo social, moralista e nacionalista para tentar manter algo do seu eleitorado.
Terá de tentar a sua sorte nos limites da família, da tradição e da propriedade. No fundo, é a vitória do modelo Kátia Abreu (DEM-TO), senadora que defende de há muito um ruralismo canhestro e reacionário.
Na entrevista a Maria Inês Nassif, do jornal "Valor Econômico", Demóstenes Torres afirmou ainda: "O problema estrutural do Brasil não é o racismo, mas a pobreza". É tocante ver os conservadores descobrirem a pobreza estrutural brasileira, mesmo que tardiamente.
Principalmente porque é essa mesma pobreza que, com título de eleitor na mão, vai lhes tirar os mandatos em 3 de outubro.
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