Respeito aos direitos humanos é balela para qualquer ditadura, seja ela qual for. Ditadores, independentemente do matiz ideológico, transformam as lutas por liberdade em crimes lesa-pátria.
Contra a si e o Estado, o que para eles é a mesma coisa. Prendem, torturam, matam.
E só tiranos, gente com coração de pedra, cegueira moral ou muita fome de poder não se chocam com as atrocidades de governos totalitários.
À morte de Orlando Zapata – um dos 75 oposicionistas presos na Primavera Negra de Cuba, que nesta semana completou sete anos – somaram-se novos mártires. Guilherme Fariñas, Eduardo Díaz Fleitas e Diosdado González, outros três inimigos do regime, jejuam, dispostos a dar a vida pela causa libertária.
Mas isso ainda é pouco para os irmãos Castro. Eles nem mesmo se envergonham de ordenar o espancamento de mulheres nas ruas de Havana.
A coragem das Damas de Branco, rechaçadas, puxadas pelas pernas, braços e cabelos por uma tropa insana disposta a tudo para pôr fim a uma manifestação pacífica, expôs uma face ainda mais covarde da ditadura cubana.
Eram menos de 30 mulheres – mães e esposas do que a ONU classifica como prisioneiros da consciência – que caminhavam empunhando ramos de flores.
Reina Tamayo, mãe de Zapata, com arranhões e a blusa manchada de sangue, outras senhoras feridas, e ainda outra sendo arrastada pelo chão por mais de cinco pares de mãos, certamente são imagens que vão continuar falando alto pelo mundo afora.
Impassível, o governo Lula mais uma vez não se mexeu. Nem mesmo somou novas desculpas à afirmação absurda feita após a morte de Zapata, quando o presidente comparou os presos políticos cubanos a bandidos.
Sua política externa insiste na tecla de que não é correto opinar sobre questões de foro íntimo de outros países. E faz coro ao desatino do ministro de Relações Exteriores Celso Amorim, que vincula todos os males ao fim do embargo dos Estados Unidos à ilha.
Parece até que a sorte de estar no lugar certo no momento exato, que sempre acompanhou Lula, o abandonou nas últimas semanas. Assim como o destino o fez desembarcar em Cuba no fatídico dia da morte de Zapata, o presidente atravessou o oceano rumo ao Oriente na hora errada.
Na mesma semana em que as Damas de Branco eram agredidas por acreditar “nas flores vencendo o canhão”, Lula metia-se no caldeirão fervente do Oriente Médio proclamando-se um predestinado ou emissário divino.
As palavras ao vento - "Eu acho que o vírus da paz está comigo desde que estava no útero da minha mãe” - em nada alteram a rivalidade milenar daqueles povos, muito menos servem à paz. Mas o tour pela região mais conflituosa do planeta pelo menos serviu para desmascarar todas as desculpas que até então Lula usou para não intervir em prol dos presos políticos cubanos.
Escancarou-se de vez a falácia.
Lula mostrou-se disposto a intervir em tudo: questões internas de Israel e da Palestina, do Hamas, da Síria e do Irã, país que pretende visitar em maio. E, desprovido de lógica e sem qualquer constrangimento, aplaudiu e rotulou de “mágica” a seriíssima tensão entre Estados Unidos e Israel.
Mas como quem semeia vento colhe tempestade, Lula ainda recebeu de lambuja o apelo de Mahmoud Ahmadinejad para que, como amigo, apóie a inclusão do Irã no Conselho de Direitos Humanos da ONU. Logo para o Conselho dos Direitos Humanos. É o que dá ter uma posição no mínimo frouxa quanto a governos totalitários.
Pior, ao que parece, sequer viu nisso qualquer afronta.
Ao presidente Lula, o mesmo que fez pouco caso da carta aberta dos presos cubanos, que namora governos tiranos e que nem sempre crê que as imagens falam por si, melhor seria ter olhos para as Damas de Branco de Cuba. Antes que venham as Damas de Negro do Irã.
Mary Zaidan é jornalista. Trabalhou nos jornais O Globo e O Estado de S. Paulo, em Brasília. Foi assessora de imprensa do governador Mario Covas em duas campanhas e ao longo de todo o seu período no Palácio dos Bandeirantes. Há cinco anos coordena o atendimento da área pública da agência 'Lu Fernandes Comunicação e Imprensa'.
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