domingo, 21 de março de 2010

Serra aponta seu problema por CLÓVIS ROSSI

PARIS - Ao assumir sua candidatura à Presidência com aquele jeito José Serra de ser, o governador paulista disse o seguinte: "O Lula fez dois mandatos, está terminando bem o governo. O que nós queremos para o Brasil? Que continue bem e até melhore".
Em três frases, Serra conseguiu, ao mesmo tempo, ser honesto na avaliação do governo do adversário, ser também óbvio e, por fim, definiu a imensa dificuldade que terá para vencer a disputa.
De fato, é muito difícil encontrar quem ache que Lula está terminando mal o governo.
Mas uma das principais características do mundo político é a oposição negar-se sempre a reconhecer os fatos quando os fatos são favoráveis ao governo. Serra não caiu nessa tentação.
O problema é o item seguinte, a torcida para que o Brasil "continue bem e até melhore". É o óbvio. Salvo um ou outro tarado, não há nunca quem não queira que o país melhore. O problema para Serra será provar que ele é a pessoa indicada para fazer o Brasil melhorar.
Imagino que a massa de eleitores se fará a seguinte pergunta: se está bem com Lula, como admite até o candidato a candidato da oposição, para que mudar?
A resposta de Serra será (ou foi) esta: "Pesam as ideias, as propostas e o passado, o que cada um fez, como foi provado na vida pública".
Pode até ser que tais fatores pesem. Mas pouco. Vamos ser sinceros: ideias e propostas servem para debate entre especialistas. A massa é guiada pela emoção e/ou pelo sentimento pessoal de cada qual. E o sentimento predominante, repito, é o tal "feel good factor", o sentir-se bem que predomina na população/eleitorado.
Passado conta? Talvez. Mas pode contar contra também. Afinal, todas as pesquisas mostram que a maioria do eleitorado está hoje mais contente do que quando Serra fazia parte do governo.

Um comentário:

  1. O fim do ombudsman

    A Folha de São Paulo ficará dois meses sem ombudsman. Não há qualquer explicação para a lacuna, que seria tratada com a devida gravidade se alguém ainda levasse o jornal a sério.
    Mas, realmente, fará alguma diferença? Ninguém espera grandes avanços depois que um profissional atencioso e preparado como Carlos Eduardo Lins da Silva foi incapaz de impedir exemplos de subjornalismo (a ficha falsa de Dilma Rousseff, o dossiê contra Victor Martins, a planilha de gastos do casal FHC, a tentação sexual de Lula), proselitismo reacionário (a Ditabranda e seus congêneres, o antipetismo botocudo) ou favorecimentos corporativos (a defesa da TV paga). Isso tudo em apenas dois anos de atividade.
    Nas empresas que se preocupam com a fidelidade de seus clientes, o ouvidor possui função deliberativa: constrange funcionários, arranca soluções, desfaz vícios burocráticos. Já o ombudsman jornalístico virou função decorativa. Uma grife modernosa para criar ilusões participativas no leitor, devolvendo-lhe os invariáveis remedos justificativos das editorias. Convenhamos, é absurdo imaginar que uma empresa de comunicação de grande porte necessita contratar alguém que lhe aponte os erros mais bizantinos. Todo jornalista mediano, diplomado ou não, sabe perfeitamente reconhecer seus desvios cotidianos.
    A Folha finge que não deve satisfações aos leitores, como se os seus tropeços administrativos (e seus desvios ideológicos) tivessem um respaldo transcendente e imutável. É esse despeito hipócrita que destrói a reputação do jornal.

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