da Sucursal do Rio na Folha Online
O diretor-geral da Polícia Federal, Luiz Fernando Corrêa, afirmou nesta terça-feira que o aumento da disseminação do crack é consequência do "sucesso" da repressão ao tráfico. Corrêa defendeu, em discurso na cerimônia de abertura da Idec (International Drug Enforcement Conference), conferência mundial antidrogas realizada no Rio, a corresponsabilidade de países produtores, consumidores e de trânsito de drogas no enfrentamento do problema.
O Brasil entende que os países consumidores, entre eles os Estados Unidos, não devem reivindicar o papel de vítimas, e sim assumir suas responsabilidades no combate às drogas, respeitando a soberania dos outros países. O objetivo, segundo ele, é evitar a "estigmatização" das nações produtoras e que servem de rota para o tráfico.
"Não pode ter protagonismo, e sim cooperação. Não pode ter imposição de conceitos, e sim cooperação na construção desses conceitos", afirmou Corrêa na conferência, sem endereçar as críticas diretamente aos americanos.
Ele citou como exemplo uma parceria firmada entre o Brasil e o Paraguai, que prevê a troca de informações e a ajuda dos brasileiros na profissionalização da investigação e da perícia no país vizinho.
"A maconha produzida no Paraguai tem como destino o Brasil na sua quase totalidade. Se ficássemos no conceito antigo, poderíamos dizer que esse é um problema do Paraguai. Mas na nossa visão, se tem produção, é porque tem mercado, e somos corresponsáveis', disse.
Em 2009, segundo Corrêa, essa estratégia resultou na destruição de 900 hectares de plantações de maconha no Paraguai, o que significa que 2.300 toneladas prontas para consumo deixaram de entrar no mercado brasileiro.
Em entrevista após o evento, o diretor da PF disse que o Brasil espera obter resultados semelhantes na Bolívia, país que, segundo ele, é corresponsável pelo problema do crack nas cidades brasileiras. Ele afirmou que a disseminação dessa droga é consequência do "sucesso" da repressão ao tráfico.
"O crack, por incrível e contraditório que pareça, é um sinal de sucesso de uma política mundial de repressão", afirmou. Segundo ele, com o controle de insumos, a produção da cocaína tornou-se mais difícil, o que levou à comercialização desse subproduto da pasta de coca.
Também presente à entrevista coletiva, a administradora da DEA, a agência antidrogas dos Estados Unidos, disse concordar que a atuação regional é importante no combate às drogas. Michele Leonhart disse ainda que corresponsabilidade, coordenação e cooperação "sempre foram parte da estratégia americana".
Segundo ela, o foco da conferência deve ser no combate ao que chamou de facilitadores, que, entre outros, ajudam na lavagem do dinheiro do tráfico. "A melhor maneira de atingir os cartéis e atingindo-os no bolso. É preciso rastrear, seguir e congelar o dinheiro, impedindo-o de retornar para os traficantes", defendeu.
Leonhart disse também que o país pretende aumentar a presença no Brasil e expandir o compartilhamento de informações de inteligência para o combate ao tráfico.
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