Daniela Milanese, de O Estado de S. Paulo
LONDRES - A turbulência grega se espalha para outros países da Europa com graves problemas fiscais e já há contágio nos mercados de Portugal, Itália, Irlanda e Espanha. Esses países formam, junto com a Grécia, o chamado grupo PIIGS. Ganhou força na terça-feira, 27, a visão que a situação pode ficar fora de controle.
"Todos os países com problemas fiscais na Europa estão sob suspeita, é isso que estamos vendo na dinâmica do mercado", afirmou o estrategista de operações do Citibank em Londres, Luis Costa.
A decisão do governo grego de recorrer à ajuda da União Europeia (UE) e do Fundo Monetário Internacional (FMI) não foi suficiente para acalmar os investidores. Existe receio que a Grécia não consiga pagar os vencimentos de dívidas de 8,5 bilhões de euros programados para 19 de maio. Além disso, cresce a percepção que a Grécia terá de reestruturar sua dívida, fixando novos prazos para os pagamentos, mesmo com o pacote de socorro.
A tensão é grande e vários bancos estão recomendando cautela aos investidores neste momento. Segundo fontes do mercado, comitês de investimentos de instituições financeiras estão se reunindo para decidir sobre o corte de exposição à dívida europeia.
O economista-chefe para a Europa do Goldman Sachs, Erik Nielsen, acredita que a Grécia, na realidade, precisa de um programa entre 50 bilhões de euros e 55 bilhões de euros para os próximos 12 meses – a ajuda anunciada até agora é de até 45 bilhões de euros . Mesmo assim, o apoio pode ser insuficiente para evitar a reestruturação da dívida, como alertam outros profissionais do mercado.
Nos últimos dias, os ativos das nações periféricas têm enfrentado forte pressão. Os riscos e os juros das dívidas da Grécia, Portugal, Espanha e Irlanda estão subindo e atingindo recordes.
"Essa é uma grande preocupação já que pode gerar uma espiral fora de controle se ocorrer maior erosão da confiança", diz em relatório aos clientes o Danske Bank. O principal temor é com Portugal – que enfrenta greve no setor de transportes. Apesar de os analistas repetirem que os fundamentos do país são melhores e não se comparam com os da Grécia, Portugal se tornou alvo de especulação.
Rombos
O déficit fiscal português, de 9,4% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2009, é o menor entre os PIIGS. Segundo a agência europeia de estatísticas Eurostat, a Irlanda está em pior condição nesse quesito, com déficit de 14,3%, seguida por Grécia (13,6%) e Espanha (11,2%).
Mas o principal problema é o fraco desempenho de Portugal nos últimos anos, com o crescimento mais lento do PIB na zona do euro. O país também tem um calendário de amortizações da dívida em maio.
O estresse dos mercados fez os juros dos títulos portugueses de dois anos saltarem da casa de 2% para 4% em apenas uma semana. Neste momento de nervosismo, os investidores deixam a diferença entre os fundamentos dos países de lado e partem para a venda generalizada dos ativos.
Os governos já anunciaram planos para cortar os déficits. A Irlanda tem o projeto considerado mais austero, inclusive com a redução de salários no setor público. A Espanha, onde o desemprego atingiu 20%, quer cortar 50 bilhões de euros em gastos e prevê a interrupção de contratações de funcionários públicos.
Portugal prevê uma série de privatizações e o congelamento dos salários dos servidores por três anos.
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