Eu respeito religiosamente todas as pessoas que emprestaram suas vozes aos desenhos animados dos Simpsons.
O físico britânico Stephen Hawking, agora com 68 anos, já apareceu mais de uma vez. Não tivesse nos dado o prazer de sua visita e eu continuaria a colocá-lo em minha lista de 50 pessoas favoritas no mundo inteiro. Uma lista muito mais importante, na minha pobre opinião, do que as listas das 50 ou 500 pessoas mais ricas do mundo, que essas são divulgadas semana sim, semana não.
Logo que o professor Hawking estourou nas bocas, com seu Breve História doTempo, coisa rara para mim, não esperei por seu lançamento em brochura. O emérito físico merecia umas librinhas a mais de minha parte. Devorei o livro e adorei cada linha. Isto não quer dizer que eu tenha entendido, fazendo por baixo, três linhas. Não entendi absolutamente nada. Patavinas, conforme se diz nas tiras do Pato Donald. Agora, que era impressionante, lá isso era. O importante, sempre ouvi dizer, é impressionar. O resto é frescura.
Dediquei-me então a uma devoção mais racional. Leria dele apenas as resenhas assinadas por gente de gabarito e as entrevistas que ele, logo na moda, costumava dar para a imprensa. Valeu a pena. Posso não entender nada de física, mas sei de coisa à beça sobre Stephen Hawking. Que, aliás, não sai dos noticiários.
Semana passada, lá estava ele fazendo manchetes, inclusive aqui neste nosso, ou vosso, sítio. A BBC Brasil deu direitinho, conforme é de seu feitio. Em uma série de documentários a ser exibida agora em maio no Discovery Channel (outro mistério para mim, embora altamente curtível), Hawking declara ser perfeitamente racional a crença de que possa existir vida fora da Terra.
E alinha seus argumentos: afinal, há 200 bilhões de estrelas em nossa galáxia, a Via Láctea; o Universo conta com pelo menos 100 bilhões de galáxias; 452 planetas fora do sistema solar podem ser discernidos simplesmente dando uma boa espiada nas estrelas; 20% das estrelas semelhantes ao nosso querido Sol devem possuir em torno, como fãs ou groupies, uma equipe de planetas. No que implica tudo isso? O excelente professor Hawking é explícito: se nossa galáxia pode ter centenas de milhões de planetas habitáveis, o Universo pode – mais: deve – contar com bilhões de planetas.
Em seu sereno entusiasmo de cientista, Stephen Hawking fez a advertência que rodou o mundo: atenção, cuidado, não falem com extraterrestres, mesmo que eles adotem um cognome menos ameaçador, feito alienígenas. Em vez de a Humanidade estar em obsessiva busca por outras vidas, outros mundo, o momento – todos os momentos, atuais e futuros – exigem extrema cautela. Com rigor matemático, o ilustre professor adverte para o perigo de eles, extraterrestres, serem racionais. Implícita está a premissa de que “ser racional” é um perigo para quem passa perto. Perfeito.
Stephen Hawking lembra então no desastre que resultou para os nativos da América do Norte quando Cristóvão Colombo “abriu a porta de seus mares” e na, para ele, terra novinha em folha, desembarcou com sua patota. E o professor finaliza, ao menos numa das entrevistas que li, dizendo o seguinte:
“Tenho a suspeita de que há no universo vida e inteligência que mal conseguimos conceber. Da mesma forma que um chimpanzé e incapaz de compreender a teoria quântica. É possível que haja aspectos de realidade que foge à capacidade de nossos cérebros.”
Eu não me considero extraterrestre e não entendo – serei vulgar – bulhufas de teoria quântica. O próprio Stephen Hawking, apesar de contar com toda minha admiração, conforme deixei claro, me soa, em sua argumentação (ah, o número de vezes que eu comecei e não acabei com a Breve História do Tempo!), algo como alienígena.
Nem por isso, no entanto, deixarei de dirigir minha palavra a ele se, numa dessas esbarradas quânticas numa esquina da vida, eu der com ele pela proa. Enquanto não provarem o contrário, aqui ou em outras bilhões de galáxias, somos todos iguaizinhos.
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