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O presidente Barack Obama disse nesta segunda-feira (05) que estava alterando a estratégia nuclear americana, visando limitar substancialmente as condições sob as quais os Estados Unidos usariam armas nucleares, até mesmo em autodefesa.
Mas o presidente disse em uma entrevista que estava abrindo uma exceção para “desajustados como o Irã e a Coreia do Norte”, que violaram ou renunciaram o principal tratado de não-proliferação nuclear.
Discutindo sua abordagem para a segurança nuclear um dia antes de lançar formalmente sua nova estratégia, Obama descreveu sua política como um esforço mais amplo para conduzir o mundo na direção de tornar as armas nucleares obsoletas, e para criar incentivos para os países desistirem de suas ambições nucleares. Para servir de exemplo, a nova estratégia renuncia o desenvolvimento de qualquer nova arma nuclear, invalidando a posição inicial de seu próprio secretário da Defesa.
A estratégia de Obama representa uma mudança acentuada em relação às adotadas por seus antecessores e busca mudar a postura nuclear do país para uma nova era, na qual Estados inamistosos e organizações terroristas são as maiores ameaças, e não potências tradicionais como a Rússia e a China.
Ela elimina grande parte da ambiguidade que existia deliberadamente na política nuclear americana desde o início da Guerra Fria. Pela primeira vez, os Estados Unidos estão se comprometendo explicitamente a não usar armas nucleares contra países não-nucleares que cumprem o Tratado de Não-Proliferação Nuclear, mesmo se atacarem os Estados Unidos com armas químicas ou biológicas, ou lançarem um ciberataque debilitante.
Arsenal nuclear estimado dos países atualmente*
De acordo com o Tratado de Não Proliferação Nuclear de 1968, os países oficialmente detentores de ogivas nucleares antes de 1967 - EUA, Reino Unido, Rússia, China e França - se comprometem em não transferir a tecnologia da bomba atômica a outro país. Índia, Israel ePaquistão nunca assinaram o tratado; Coreia do Norte firmou o documento, mas se retirou em 2003. De modo paralelo e complementar, o Start I de 1991 foi um tratado bilateral entre EUA e a ex-URSS no qual os dois países se comprometiam a reduzir seu arsenal de armas nucleares
*Estimativas do Center for Defense Information e Nuclear Threat Iniciative (2009)
Essas ameaças, ele argumentou, poderiam ser dissuadidas com “uma série de opções”, uma combinação de armas convencionais antigas e recém-projetadas.
“Eu vou preservar todas as ferramentas necessárias visando assegurar que o povo americano permaneça em segurança”, disse Obama durante a entrevista no Escritório Oval.
Funcionários da Casa Branca disseram que a nova estratégia deixará aberta a opção de reconsideração do uso de retaliação nuclear contra um ataque biológico, caso o desenvolvimento dessas armas chegue a um nível que deixe os Estados Unidos vulneráveis a um ataque devastador.
A nova estratégia de Obama está fadada a ser controversa, tanto entre os conservadores que alertaram contra uma diluição do dissuasor mais potente dos Estados Unidos, como entre os liberais que esperavam por uma declaração de que o país nunca seria o primeiro a usar armas nucleares.
Obama argumentou a favor de uma linha de ação mais lenta, dizendo: “Nós queremos assegurar que poderemos continuar em um caminho de menor ênfase nas armas nucleares” e, ele acrescentou, “assegurar que nossa capacidade de armas convencionais seja um dissuasor eficaz em todas as circunstâncias, exceto as mais extremas”.
A divulgação da nova estratégia, conhecida como “Revisão da Postura Nuclear”, abre nove dias intensos de diplomacia nuclear visando a redução das armas. Obama planeja voar para Praga para assinar um novo acordo de controle de armas com a Rússia, na quinta-feira, e então receberá na próxima semana 47 líderes mundiais em Washington, para um encontro de cúpula sobre segurança nuclear.
O teste mais imediato da nova estratégia provavelmente será a forma de lidar com o Irã, que tem desafiado a comunidade internacional ao desenvolver um programa nuclear que ele insiste ser para fins pacíficos, mas que os Estados Unidos e seus aliados dizem ser um precursor de armas. Ao ser perguntado sobre a escalada do confronto com o Irã, Obama disse que agora está convencido de que “o curso atual que adotaram lhes dará capacidade de armas nucleares”, apesar de não ter dado um prazo.
Ele se esquivou quando perguntado sobre se compartilhava a posição de Israel de que um Irã com capacidade nuclear seria tão perigoso quanto um que possuísse armas de fato.
“Eu não vou analisar isso agora”, ele disse, sentado em seu gabinete enquanto crianças brincavam no Gramado Sul da Casa Branca, durante um evento de procura de ovos de Páscoa. Mas ele citou o exemplo da Coreia do Norte, cujas capacidades nucleares eram incertas até a realização de um teste em 2006, que foi seguido por um segundo logo após a posse de Obama.
“Eu acho ser seguro dizer que houve um tempo em que a Coreia do Norte era considerado simplesmente um Estado com capacidade nuclear, até que expulsou a AIEA e se tornou um autodeclarado Estado nuclear”, ele disse. “Logo, em vez de ficar discutindo a respeito disso, eu acho que a comunidade internacional tem um forte senso do que significa buscar energia nuclear civil para fins pacíficos, em vez de uma capacidade de armas.”
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