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Alberto Goldman, Governador do Estado de São Paulo Novo governador de São Paulo tem a missão de dar continuidade à gestão tucana no maior colégio eleitoral do País
Na próxima segunda-feira, o Palácio dos Bandeirantes começa a funcionar mais cedo. O ex-comunista Alberto Goldman (PSDB), de 72 anos, que foi vice de José Serra por 39 meses, assume o comando do governo de São Paulo com um relógio algumas horas mais adiantado que o do antecessor e uma missão: manter a gestão paulista como a principal vitrine dos tucanos na campanha.
“Acho que a melhor forma de ajudar é fazer um bom final de governo. Tudo que for feito corretamente vai reverter em benefício dele. O que fizer de errado vai na contracorrente”, disse.
Ex-deputado e ex-ministro dos Transportes no governo Itamar Franco, Goldman, que tem em Serra um aliado há mais de trinta anos, não tem mais ambições eleitorais. Diferentemente de Serra, sente-se liberado da etiqueta política e não usa eufemismos nas referências ao governo federal. Rechaça a tentativa de tornar a eleição um plebiscito de Lula versus FHC. “Não é isso que está posto. Isso é falso, é enganação”, afirmou.
Filho de judeus poloneses, criado no bairro paulistano do Bom Retiro, Goldman é engenheiro civil, casado e tem cinco filhos. Deverá manter o mesmo conteúdo programático do governo Serra, mas imprimirá um novo estilo de governar. A começar pelo mais óbvio, a pontualidade. Diz ter sofrido nos últimos anos com os atrasos do governo, uma das características mais conhecidas de Serra.
Goldman será diplomado pela Assembleia nesta terça-feira. Ao receber o Estado no palácio, ainda como vice, brinca quando diz que não foi uma boa escolha trocar de posto. A começar pela mudança de gabinete - o do vice tem uma ampla varanda, coisa que o do governador não tem. “Vou trabalhar mais e ganhar menos”, conta, já que abrirá mão dos conselhos de empresas do governo que engordavam o contracheque.
Uma vantagem é que agora chegará mais rápido ao palácio: continuará morando em Higienópolis, mas irá de helicóptero para o trabalho. Ou seja, sem atraso. A seguir a entrevista.
Lula disse que nesta fase do governo é proibido inventar. É continuar o que está sendo feito. O que Serra recomendou?
Não houve recomendação nenhuma, até porque estamos trabalhando juntos há três anos e três meses. Tenho participado de todas as reuniões. As decisões de governo são decisões conjuntas das quais todos nós participamos. É dar continuidade a isso. Tudo o que puder inventar e criar, da mesma forma que Serra faria se estivesse aqui, devo fazê-lo.
Pode então criar coisas novas?
Serra criava coisas que entendia corretas. Da mesma forma, se tiverem coisas a serem pensadas e criadas, não vejo por que não fazer. Até porque uma das condições do governo no seu último ano de mandato é preparar o Estado para que quando venha o novo governo a velocidade das coisas se mantenha. Estamos aqui aquecidos, em velocidade de cruzeiro.
Existem diferenças óbvias entre o senhor e Serra. Talvez as mais evidentes são de estilo. Haverá mudanças no governo?
Não acho que vai haver grandes diferenças. Há uma diferença fundamental: ele é palmeirense, eu sou corintiano, e ele insiste muito na divisão futebolística. De resto, não há uma diferença de forma, de conduta. Ele é exigente, e eu sou exigente também. Dizer que ele é centralizador, acho que não é. A única diferença mais sensível é da pessoa física, no qual o meu horário é diferente do dele. O meu começa muito cedo e não termina tão tarde. O dele começa mais tarde e ia até muito mais avançado durante a noite.
Outra coisa que eu acho que faz parte do meu DNA, talvez produto da minha herança paterna, é que sou pontual doentiamente. Deve ser uma doença, algo que eu mesmo não me dou conta. Não faço esforço para isso, é natural. A máquina funciona normalmente para que eu obedeça horários.
Então sofreu nos últimos anos. Sim, de fato. Ele tem uma característica diferente da minha. Eu também não vou conseguir ser tão rígido como gostaria. Tenho que reconhecer que a realidade de governador é totalmente diferente da de vice. A demanda aumenta e não vou conseguir fazer o mesmo que fazia.
Então não haverá diferenças programáticas.
São diferenças pessoais, não programáticas. Do ponto de vista de programas e ideias, ele é extremamente criativo e pouca gente pode competir com ele. A placa com o nome de todos os trabalhadores do Rodoanel foi ideia dele e agora pode ser pensada para outras obras. Não sei se vou ter o mesmo grau de criatividade.
Serra disse que fez uma gestão “popular”. Isso deve ser colocado para o eleitor na campanha?
Talvez isso seja a coisa mais importante para ser colocada numa campanha. Por isso que acho que muito daquilo que ele fez, e os valores que colocou são o que ele vai propor e implementar no nível federal.
Como o sr. pretende ajudar Serra na campanha?
Acho que a melhor forma que tenho é fazer um bom final de governo. Tudo que for feito corretamente vai reverter em benefício dele. O que fizer de errado vai na contracorrente.
Tucanos citam como um exemplo a não ser seguido a gestão de Cláudio Lembo.
O problema do Lembo foi que ele não teve com o Geraldo a intimidade que estou tendo com Serra e com o governo. Assumiu o governo com pouco conhecimento da estrutura da máquina. Além disso, teve alguns problemas que espero que eu não tenha. Foram situações conjunturais delicadas, como a revolta do PCC.
Vai ter mudanças no secretariado nesses nove meses?
Nenhuma mudança.
O sr. tem carreira política. Não é frustrante ser governador e não concorrer à reeleição?
Poderia ser candidato. Teria toda legitimidade e absoluta concordância com os principais pretendentes à candidatura, inclusive com o Geraldo. Neste período assumo com entusiasmo, honra, orgulho, tudo isso. Mas decidi que não quero assumir por mais quatro anos a responsabilidade que terei nestes nove meses. Quero ter outro tipo de vida. Vou completar 40 anos de vida pública. Cumpri um papel que para mim me satisfaz. Estou bem comigo mesmo, resolvido, como se diz aí na praça. Não quero ter quatro anos de obrigação determinada. Como não posso passar dois anos e dizer agora estou cansado, não quero ficar preso neste sentido.
A sua decisão favoreceu unidade em torno de Alckmin. Mas o que parece paradoxal é que o sr. discorda dessa candidatura.
Não discordo; tenho minhas opiniões. Parti de uma opinião, em um momento em que o Geraldo me disse, lá atrás, que não desejava ser governador. Essa condição dele mudou. Neste processo incorporei a ideia de outros nomes. Coloquei isso claramente para ele. Mas se é decisão majoritária do partido e a população vê nele um nome apropriado, concordo e participo intensamente.
Qual avaliação que o sr. faz da gestão Alckmin? Muita gente no partido acha que foi uma gestão mediana.
Alckmin é um homem honesto, correto, bem avaliado pela população. Portanto é muito bem quisto, bem avaliado. Absolutamente correto. É isso que eu posso dizer. A eleição será plebiscitária?
Lula quer uma disputa entre ele e FHC, e não é isso que está posto. Isso é falso, é enganação. O embate real é entre Dilma e Serra. O povo tem que decidir em cima disso.
Por que o PSDB esconde o ex-presidente FHC nesta eleição?
Como o Lula busca transformar a eleição em uma disputa entre ele e FHC, buscamos eliminar esta discussão. FHC não está em questão. Eles é que querem esconder a disputa real.
O sr. acha fundamental que o vice seja Aécio Neves?
Essas coisas vão se sedimentando, não tem que ter pressa. Até a convenção de junho, a gente tem tempo. Quando se tem uma candidatura forte como a do Serra, o vice tem importância menor do que se a candidatura fosse frágil.
Esse raciocínio também vale para a candidata do PT?
Você tem no Brasil uma realidade da legislação eleitoral. O vice da Dilma é alguém que vai agregar tempo de televisão, e só. É isso que o PT busca. O PMDB de cada Estado, de cada município, é uma entidade absolutamente autônoma. Não existe unidade, e sempre foi assim, mesmo quando o PMDB esteve conosco.
QUEM É É formado em Engenharia Civil pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP). Foi deputado estadual por dois mandatos consecutivos (1971-1978), deputado federal em seis mandatos (1979-1986, 1991-2006). Também foi ministro dos Transportes (1992-1994) no governo de Itamar Franco. Durante a gestão Serra (2007-2010), além de vice, foi secretário de Desenvolvimento até o ano passado.
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