segunda-feira, 31 de maio de 2010

'Com reformas, Brasil poderia crescer 7% por uma década'

Entrevista com Nouriel Roubini, economista e professor. Economista que previu a crise financeira mundial diz que 'teto' da expansão nacional está atualmente entre 4% e 5% ao ano


Fernando Scheller - O Estado de S.Paulo


Após ganhar fama por prever a crise financeira mundial, o economista Nouriel Roubini agora lança um livro sobre as turbulências globais periódicas do capitalismo ? A Economia das Crises, com o historiador Stephen Mihm ? e afirma que os países em desenvolvimento terão "expansão diferenciada" nos próximos anos. Ele diz, porém, que o Brasil precisa de mudanças estruturais para crescer mais de 5% ao ano. "Com reformas, o Brasil poderia crescer 7% por uma década." Em entrevista ao Estado, Roubini falou dos perigos da dívida de países europeus ? avisando que a Grécia é só a "ponta do iceberg" ? e sobre as dificuldades dos governos para fazer as reformas necessárias para evitar que a crise de 2008 e 2009 se repita.

No seu livro, o sr. fala em uma recuperação contínua para a economia. O "Dr. Catástrofe" está mais otimista?

Tento ser realista. A visão mais otimista é a de uma recuperação em "U". Mas me preocupa a situação na Europa. A previsão atual para o crescimento da zona do euro este ano está em 0,8% e pode chegar perto de zero. Com isso, pode-se dizer que existe o risco de uma dupla crise na Europa. Haverá uma recuperação mais anêmica nos EUA, na Europa e no Japão e uma expansão mais forte nos países em desenvolvimento.

Vamos passar da crise dos bancos para a crise das dívidas?

A crise global começou com muita alavancagem no setor privado. O problema foi para o setor público, com déficits orçamentários de 10% do PIB e dívida pública acima de 100% do PIB nas economias avançadas. Isso aconteceu por causa do gasto dos governos para evitar que a recessão se tornasse uma depressão. Os problemas na Grécia são a ponta do iceberg. Já se espalham por Espanha e Portugal e podem afetar Japão, Reino Unido e os EUA.

O papel dos governos na economia mudou após a crise?

A crise mostrou que a economia de mercado é a melhor solução, mas que a regulação também é necessária. A função da intervenção do governo foi reconhecida, mas é preciso que ele não se envolva demais, que tenha um papel prudencial. Acreditar em regulação privada é o mesmo que acreditar que o sistema não precisa de regulação alguma. Durante a crise, os bancos se tornaram mais avessos ao risco, mas agora estão de volta ao velho jeito de negociar, não aprenderam a lição.

Mas há poder político para fazer as reformas necessárias?

É preciso acelerar as reformas estruturais na Europa e mudar a regulação do sistema financeiro. A questão é se os governos vão conseguir fazer isso. Até agora, mais se falou sobre o que é necessário fazer do que se tomou medidas reais.

Na contramão do cenário externo, no Brasil fala-se em crescimento excessivo. Por quê?

O Brasil está crescendo mais de 7%, mas isso não se sustenta, pois está acima da capacidade do País. É pontual: as commodities estão em alta e há entrada de capital. Com reformas, o Brasil poderia crescer 7% por uma década. É preciso aumentar a produtividade, com reformas econômicas, investimento em capital humano e físico e em inovação. Sem isso, o Brasil não cresce 7% (ao ano). Hoje, o potencial está entre 4% e 5%.

Um artigo defendendo a ditadura no Brasil foi publicado no RGE (Roubini Global Economics). Como isso ocorreu?

Somos abertos a diferentes pontos de vista, mas não queremos publicar nada extremado. Esse texto em particular pregava algo errado, e nós nos desculpamos por tê-lo publicado. Por isso, depois foi retirado do ar.


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