Centrais disputam controle sobre imposto sindical, que gira em torno de R$ 2 bi por ano
Os 6,8 mil frentistas dos 320 postos de gasolina do Distrito Federal conhecem essa história de perto. Assim como os 15 mil trabalhadores das empresas de joalheria de Limeira, polo industrial do setor em São Paulo, e os milhares de carregadores de mercadoria do Centro-Oeste. São funcionários que, diante dessa guerra, ficam sem saber quem os representa e quem negocia o reajuste salarial. Contribui para esse cenário o aumento de registros sindicais concedidos diariamente pelo Ministério do Trabalho nos últimos anos.
Criado em 2008 e filiado à Força Sindical, o Sinpospetro (Sindicato dos Trabalhadores em Postos de Serviços de Combustíveis) briga na Justiça com o Sindicato dos Trabalhadores no Comércio de Minérios e Derivados de Petróleo - ligado à CUT (Central Única dos Trabalhadores) - para representar os frentistas de postos no DF, um setor que, na capital, vive sob suspeita de cartelização.
O Sinpospetro acusa o presidente do segundo sindicato, Raimundo Miquilino, de coagir e agredir fisicamente quem tenta mudar de sindicato. Exibe como prova boletins de ocorrência registrados na polícia. O revide é à altura: os líderes da entidade ligada à CUT acusa o Sinpospetro de agir de acordo com as diretrizes do patronato. Miquilino provoca:
- Eu não pego dinheiro do patrão.
Enquanto isso, os trabalhadores não sabem a quem recorrer - as duas entidades fazem rescisão de contratos de trabalho, por exemplo - e o dinheiro do imposto sindical recolhido todos os anos tem sido depositado em juízo. Pior: não há consenso sobre quem representa a categoria na negociação com os donos de postos de combustíveis.
Na avaliação do Ministério Público, ninguém tem razão. Os sindicatos se "equiparam a uma empresa" e só querem disputar o mercado, afirma Antônio Carlos Cavalcante Rodrigues, procurador do Trabalho.
Defesa
Raimundo Miquilino, os 60 anos, recebe aposentadoria de R$ 2 mil e mais R$ 4 mil para dirigir uma federação. Preside o Sindicato dos Trabalhadores no Comércio de Minérios e Derivados de Petróleo, que atende dez categorias e ainda briga na Justiça para representar os trabalhadores dos postos de combustíveis do Distrito Federal. E diz:
- Não agredi ninguém. Mas se tiver de gritar, sou mal educado mesmo.
Ao receber a reportagem na sexta-feira, Miquilino elevou o tom nos ataques aos adversários e ao Ministério do Trabalho, que concedeu o registro para a entidade inimiga:
- Não quero ser Medeiros nem Lupi. Quero fazer sindicalismo.
A entidade que dirige vive com uma receita de, pelo menos, R$ 500 mil por ano, segundo a prestação de contas publicada no Diário Oficial do DF.
O presidente do Sinpospetro - o outro sindicato dos frentistas -, Carlos Alves Santos, tem a fama de ser parceiro dos donos de postos na desfiliação da entidade mais antiga. Ele nega ligação com os patrões e rebate as acusações. Ele mostra à reportagem boletins de ocorrência em que Miquilino é acusado de agredir trabalhadores.
- Não estamos mentindo. Eles nunca fizeram nada pela categoria.
"Fantasma"
O dirigente do Sintijob em Limeira, Carlos Solano, é acusado pelos adversários de forjar uma assembleia para fundar a entidade "fantasma". A edição de maio do jornal do Sintrajoias comemora a decisão judicial que barrou o registro concedido pelo Ministério do Trabalho no dia 12 de março a outro sindicato. O Sintrajoias afirma:
- Acabou a farsa sindical montada em Limeira pelo Solano "Zé Tapioca" e a corriola de sindicalistas que há muito tempo comem na mão dos patrões, enriquecem ilicitamente e usam de maneira fraudulenta as contribuições da categoria.
Solano nega tudo.
- Nós fizemos a assembleia de desmembramento. Esse outro sindicato não dava atenção aos trabalhadores em Limeira. Os funcionários que pediram para abrirmos a nova entidade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário