Ex-prefeita resiste à possibilidade de senador assumir condição de vice na chapa de Aloizio Mercadante que PT está montando para derrotar tucanos
Em junho de 2009, o presidente Lula foi a El Salvador para a posse do colega Maurício Funes. Levou um entourage de petistas que incluía as ex-ministras Dilma Rousseff e Marta Suplicy e o senador Eduardo Suplicy. No avião, papeando sobre as eleições deste ano, Lula cogitava qual seria o nome mais forte em São Paulo para bater os tucanos.
O presidente buscava um candidato que superasse os 30% a que o PT costuma chegar no Estado com mais uns 20%, uma soma justa para a vitória. Eduardo Suplicy sabia a conta de cor. Sentado numa poltrona mais afastada, escreveu em um guardanapo que o nome procurado era o seu, senador eleito com 48% dos votos dos paulistas. Ele passou o rascunho para o presidente. "Tive quase um voto a cada dois eleitores", argumentou. Ao ver as anotações de Suplicy no pedaço de papel, Marta e Lula ponderaram que "uma coisa é o Senado, a outra é o governo", sem mais.
Um ano depois, cá está Suplicy novamente como opção para alavancar a candidatura petista, desta vez como possível vice de Aloizio Mercadante. E, novamente, Marta Suplicy parece achar que uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa.
O imbróglio envolve a aliança com o PDT paulista. A vaga de vice estaria prometida aos pedetistas. Mas o comando do partido deu sinais de que abriria mão da indicação se pudesse escolher o suplente de Marta Suplicy na candidatura ao Senado.
Marta não quer saber dessa história. Já teria combinado com Dilma Rousseff e Antonio Palocci, na viagem da semana passada aos EUA, que o ex-ministro da Fazenda seria seu suplente.
Dirigentes do partido acreditam que, para concretizar seu projeto político pessoal, Marta aposta na seguinte conjuntura: ela será eleita senadora (tem aparecido com mais de 40% nas pesquisas), será convidada para compor o Ministério de Dilma, e precisará de um nome forte para deixar no Senado em seu lugar.
Se não for ministra, tentará voltar à Prefeitura de São Paulo em 2012. O certo, dizem os contrariados com a ex-prefeita, é que, se faz tanta questão de indicar seu suplente, Marta não deve ter intenção de completar seu mandato de senadora.
Essa posição estaria incomodando boa parte do partido e de aliados da base. Em nota, Marta garantiu que sua insistência não criou um racha: "O PT tem trabalhado as questões das coligações com os partidos com muita harmonia interna. Sobre a suplência ao Senado, observo que é uma questão que tem de ter a participação do partido, dos coligados e da candidata ao Senado".
Diálogo. Eduardo Suplicy, dono do estigma de "bonzinho" principalmente depois do divórcio com Marta, não se diz incomodado. Em novembro de 2009, quando quis ser o pré-candidato ao governo de São Paulo e já tinha colhido 3.530 assinaturas de petistas que o apoiavam - quando só precisaria de 2.970 -, conversou com Marta a respeito. Ele lembra do diálogo.
"Você não quer que eu seja candidata ao Senado?", cobrou a ex-mulher, deduzindo que, se Suplicy concorresse ao governo, Aloizio Mercadante naturalmente seria o candidato a senador na coligação e ela ficaria de fora. "Só quero o que é melhor para o PT", respondeu, resignado.
Seu nome como titular na chapa foi perdendo força. Em reunião com 20 dirigentes do PT paulista, uma semana depois da conversa com Marta, 12 deles pediram que Suplicy desistisse. Foi o que fez, mesmo aparecendo, em pesquisa daquele mesmo dia, com 19% das intenções de voto, contra 13% de Mercadante.
Só que, no começo de maio, Emidio de Souza, coordenador da campanha de Mercadante, convidou o senador para a chapa. "Fui muito aplaudido nos eventos em que se falou disso", conta Suplicy.
O que mais animou o senador foi a promessa que recebeu de que teria o mesmo tempo na TV que Mercadante e Marta. "Prometeram que eu poderia falar do renda básica de cidadania", empolga-se com sua bandeira-mór. "Mas se o PT avaliar que a candidatura vai se fortalecer mais com o Palocci na suplência do que comigo na vice, tudo bem. Fico feliz no Senado, numa boa."
Prestígio. Até o fechamento desta edição, não era certo se Palocci aceitaria abrir mão de sua candidatura à reeleição para o Congresso para ser suplente de Marta. Nem se o PT cederia à pressão do presidente do PDT-SP. Paulinho da Força, que indicou para vice de Mercadante Major Olímpio, deputado estadual pelo PDT-SP, ex-policial militar, formado em ciências sociais.
Paulinho diz que o PDT não voltará mais atrás. Edinho Silva responde que a prioridade é manter o campo partidário em torno de Mercadante unido, mas que ainda há espaço para negociar. "Não adianta termos um nome que amplie o número de votos, como o de Suplicy, se a aliança não ficar de pé", argumenta.
Enquanto isso, Suplicy espera. Dessa vez, ele não falou com Marta a respeito de política. "Só tratamos de assuntos familiares ultimamente". Ele garante que se sente prestigiado ao ser cogitado para a vice, depois de ter sido rejeitado como nome principal na chapa. "O sentimento meu e de muitos é que isso foi um sinal de reconhecimento e respeito para comigo."
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